Venda do novo banco em risco

Minsheng, o candidato mais forte, ainda não apresentou as garantias financeiras ao BdP e a Lone Star  já veio alertar que a sua oferta de 750 milhões caduca a 4 de janeiro.

Avenda do Novo Banco deverá derrapar para janeiro. Esta decisão deve-se ao facto de um dos interessados, o Minsheng Financial, necessitar de mais tempo para apresentar as garantias financeiras exigidas pelo Banco de Portugal (BdP). Isto porque ainda decorre o prazo acordado para os três candidatos finalistas – o China Minsheng, a Lone Star Star e o consórcio Apollo/Centerbridge – entregarem provas da sua capacidade financeira.

O grupo chinês, que apresentou a melhor proposta para comprar a instituição financeira liderada por António Ramalho, terá informado o BdP que pretende usar toda a margem temporal de que dispõe para tentar mobilizar apoios financeiros que lhe permitam honrar a sua proposta de compra do Novo Banco.

O Minsheng assinou um memorando de entendimento que prevê um aumento de capital a dois tempos, primeiro de 600 milhões de euros por 55% do banco e, depois, de 150 milhões. E, a prazo, a possibilidade de comprar uma parte da participação do Fundo de Resolução, com um teto de investimento de 150 milhões de euros. No entanto, depois de assinarem o acordo tinham uma semana para apresentarem a prova de fundos e não o fizeram.

Insatisfação

Perante este atraso, o mais certo é o Banco de Portugal não estar em condições de recomendar ao Governo a melhor proposta ainda este mês, remetendo uma decisão para janeiro.

Mas a verdade é que o Banco de Portugal vai ter de acelerar o passo. O fundo norte-americano Lone Star, outro dos interessados no Novo Banco, pode cancelar a sua oferta pelo banco se a decisão não for tomada até 4 de janeiro.

Essa informação já terá sido transmitida a Sérgio Monteiro, que lidera o dossier de venda, com o fundo de investimento a mostrar a sua insatisfação pelo adiamento da decisão final sobre o comprador do Novo Banco.

A Lone Star oferece 750 milhões de euros pela instituição financeira e contempla a possibilidade de injetar outros 750 milhões de euros na proposta entregue ao Banco de Portugal. Além disso, avança com a criação de um «side bank» para juntar ativos do Novo Banco considerados de difícil cobrança e propõe-se gerir o risco e a eventual recuperação do capital com o Estado. Ainda assim, admite que se trata de uma matéria que é necessário negociar com a Comissão Europeia.

Também na corrida à alienação do Novo Banco está o consórcio Apollo/Centerbridge, mas tudo indica que, a oferta será a menos ambiciosa do ponto de vista financeiro.

Recorde-se que existem dois concursos paralelos. Um passa pela compra da totalidade do capital do Novo Banco ao Fundo de Resolução, em que a Lone Star e Apollo/Centerbridge apresentaram candidaturas e estão os dois em condições de apresentar este requisito financeiro ainda este mês. Paralelamente decorre outro, no qual entrou o Minsheng, que não implica a compra de ações, mas passa por um aumento de capital.

História de impasses

O que é certo é que prazo de venda do Novo Banco tem sido sempre indicativo, para salvaguardar a posição negocial do Estado. Mas também é verdade que estes prazos têm vindo a ser sucessivamente adiado desde agosto passado. Ainda assim, há um calendário oficial e que foi anunciado pelo próprio ministro das Finanças, Mário Centeno: agosto de 2017, sob pena de estar em causa a liquidação do banco por imposição da Autoridade de Resolução Europeia. Isto porque em dezembro passado foram prolongadas as garantias estatais ao Novo Banco.

Redução de custos

Com ou sem comprador, a instituição financeira vai implementar novas medidas a partir de 1 de janeiro com vista à redução de custos. O banco liderado por António Ramalho levou a cabo alterações à estrutura da organização ao nível dos gestores de primeira linha, reduzindo dez estruturas centrais – passando das atuais 39 para 29 – o que corresponde a uma diminuição de 25,6% nas estruturas de topo da instituição financeira.

De acordo com o banco, através desta reorganização, a entidade «passa a ser a instituição com a estrutura mais leve e eficiente do setor bancário nacional».

De acordo com o Novo Banco, esta estratégia vai ao encontro do que já tem vindo a ser implementado nos últimos meses e dá como exemplo os números que foram apresentados no final de setembro em termos de custos operacionais. Estes totalizaram os 449,9 milhões de euros, mas representam uma redução de 24,3% face ao período homólogo do ano anterior, ao mesmo tempo que «apresentou um resultado marginalmente positivo, mesmo assim, o primeiro da sua história».

A entidade salientou ainda que «o esforço das equipas do Novo Banco coincidiu com um período de maior exigência na rede de retalho e de empresas, que aliás se refletiu em vários recordes de produção mensal obtidos no último mês de outubro».

Recorde-se que o Novo Banco registou prejuízos de 359 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano, o que representa uma melhoria de 14,3% face aos resultados líquidos negativos de 418,7 milhões do período homólogo, mas, considerando apenas o terceiro trimestre, o banco teve lucros de 3,7 milhões de euros.

Para António Ramalho, «o ano de 2016 é um ano em que a prioridade é a solidez do balanço» e acrescentou que «o ano de 2017, já com novos acionistas, será um ano em que se poderá pensar na solidez da conta de exploração».