Não é todos os dias que um Presidente da República se desloca a um centro comercial, especialmente quando está repleto de pessoas na azáfama das últimas compras natalícias. Foi, contudo, precisamente isso que aconteceu esta segunda-feira: Marcelo Rebelo de Sousa esteve ontem no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, para assinar a Agenda Solidária do Instituto Português de Oncologia (IPO), na qual participou com um texto sobre duas visitas que fez ao antigo bairro de lata lisboeta Casal Ventoso com a mãe, assistente social que fazia o acompanhamento de crianças portadoras de deficiência, quando tinha seis anos.
“No Casal Ventoso, em ambiente de pobreza brutal, a situação daquelas crianças era dramática. Recordo-me bem do que me impressionaram as crianças, as barracas, a falta de água e de esgotos”, lê-se no texto do Presidente, intitulado “O choque da desigualdade”.
A mesa contava com outras personalidades que também participaram na Agenda Solidária: o ilustrador João Vaz de Carvalho, o escritor Afonso Cruz e Margarida Pinto Correia, membro do Conselho Diretivo da Fundação EDP, mas as atenções estiveram concentradas no Presidente.
“Buon Natale”
Desde a sua chegada ao centro comercial, pouco depois das 18h30, e à medida que descia as escadas rolantes, até à praça central do estabelecimento, muitos não perderam a oportunidade de fotografar o chefe de Estado. O italiano Gianni Pavanetto foi um deles. “Auguri Signor Presidente! Buon Natale!”, ouviu-se em plena praça. Ao que Marcelo respondeu: “Auguri!”. Reformado e a viver em Cascais desde há sete meses, Gianni não queria acreditar que o Presidente da República portuguesa estava num centro comercial a distribuir assinaturas e a cumprimentar os cidadãos. “Em Itália seria impossível. Não quis perder esta oportunidade”, acentuou.
Sem comentários
Mas apesar de ter distribuído cumprimentos, ter tirado fotografias com pequenos e graúdos, o chefe de Estado não fez comentários sobre a situação dos lesados do BES, anunciado também ontem pelo primeiro-ministro, António Costa. “Não sei qual é o acordo, portanto não vou fazer comentários. Amanhã já sei”, afirmou o Presidente da República ao i, enquanto cumprimentava mais uma mulher. O mesmo relativamente ao acordo de Concertação Social e à nova equipa da Caixa Geral de Depósitos, fechada ontem entre o governo e Paulo Macedo. “Também não sei. Hoje estive o dia todo a trabalhar”, sublinhou.
A Agenda Solidária ficou disponível para o público a 9 de novembro e desde então já foram vendidos 12.800 dos 16 mil exemplares – na tarde de ontem foram disponibilizados cerca de 500 exemplares para serem assinados. Segundo a Lusa, citando fonte do IPO, as vendas superaram as expectativas – aliás, inicialmente só tinham sido impressos 10 mil exemplares. As receitas revertem para o serviço de pediatria do IPO de Lisboa.