Um dia após a libertação, por falta de provas, do primeiro suspeito do atentado de segunda-feira, no mercado de Natal de Breitscheidplatz, em Berlim, as atenções das autoridades policiais alemãs viraram-se para uma nova pista. O alvo é agora Anis Amri, um cidadão de nacionalidade tunisina, na casa dos vinte e poucos anos, alegadamente nascido em Tataouine, cujo documento de identificação foi encontrado debaixo do banco do camião utilizado para o atropelamento, que resultou em 12 mortos e quase cinquenta feridos, alguns em estado grave.
Segundo a edição online da revista “Der Spiegel”, o documento em causa trata-se de uma autorização de permanência temporária na Alemanha, emitido pelas autoridades do distrito de Cleves, no estado da Renânia do Norte-Vestefália, para os casos em que o processo de pedido de asilo ainda se encontra em análise ou para aqueles em esse mesmo pedido foi rejeitado, mas não estão cumpridos todos os requisitos para que se possa decretar a deportação. Aparentemente o suspeito viajou de Itália para a Alemanha no final de 2015, onde requereu asilo no início deste ano, tendo ficado registado num hostel de de acomodação de refugiados e imigrantes, em Emmerich, naquele mesmo distrito.
É, por isso, a partir da Renânia do Norte-Vestefália que a polícia tenta recriar os passos do tunisino. De acordo com o ministro do Interior daquele estado ocidental, que faz fronteira com a Bélgica e a Holanda – precisamente do lado oposto à capital alemã, onde se deu o ataque – o pedido de asilo do suspeito foi rejeitado em junho de 2016, mas a deportação para a Tunísia ainda não tinha sido possível. “Ele não pôde ser deportado porque não tinha documentos [tunisinos] de identificação válidos”, explicou Ralf Jäger, na quarta-feira, em conferência de imprensa, citado pela Sky News, já depois de esclarecer que ainda não havia provas de que Amri. esteve realmente envolvido no atropelamento no mercado de natal berlinense, pelo que era apenas suspeito.
O destaque nas declarações de Jäger vai, no entanto, para o reconhecimento, por parte das autoridades alemãs, de que o suspeito era perigoso. “Os serviços de segurança investigaram-no em novembro (…) [e] a polícia federal emitiu um aviso que dava conta que ele representava um perigo”, confirmou o ministro. A “Der Spiegel” diz mesmo que a polícia desconfiava, desde fevereiro, que o tunisino poderia ter ligações ao grupo terrorista Estado Islâmico, que acabou por reinvindicar o ataque.
Várias identidades
Anis Amri pediu asilo na região ocidental da Alemanha e, segundo Jäger, estava a residir em Berlim desde fevereiro deste ano. Entre um e outro local distam mais de 600 quilómetros, pelo que a polícia local iniciou uma autêntica caça ao homem por todo o país e para além dele. “Desde a noite passada (terça-feira) que seguimos todas as pistas para encontrar o suspeito (…) tanto na Alemanha como na Europa”, informou Thomas de Maizière, ministro do Interior da Alemanha, citado pelo “El País”.
Mas as buscas não se afiguram fáceis, tendo em conta as informações discrepantes e divergentes sobre o cidadão tunisino. De acordo com a imprensa alemã, o suspeito era identificado pelas autoridades berlinenses com outros dois nomes – Ahmad Z. e Mohamed H. – e não era tunisino, mas egípcio. Noutras cidades também é associado como cidadão libanês. No total, as autoridades identificam Amri com seis identidades diferentes.
Para além dos vários pseudónimos, o suspeito terá estado em contacto com Abu Walaa, um pregador islamista iraquiano, detido em novembro e acusado de liderar um rede jihadista com ligações ao Estado Islâmico, a partir da Alemanha.
Não faltam pistas
Se na terça-feira o estado da investigação parecia indicar uma carência preocupante de pistas sobre o autor do atentado em Berlim, na quarta-feira o cenário alterou-se, ao ponto de a polícia ter referido que tem mais de 500 pistas que podem ajudar a identificar o suspeito. Uma delas é apontada pela rádio Berlín Rbb, que refere que o responsável pelo atropelamento mortal no mercado de natal terá ficado ferido, depois de lutar com o condutor do camião – um cidadão polaco que foi encontrado morto no lugar do passageiro – e que há vestígios do seu ADN na cabina do veículo.
As autoridades alemãs já divulgaram fotografias de Amri suspeito, incluindo os nomes, as datas e os locais de nascimento a si associados, e prometem uma recompensa de 100 mil euros por informações que possam levar à detenção do mesmo.