“Faz sentido que um miúdo de 10 anos possa aprender tudo sobre a ‘utilização correcta do preservativo’ e sobre o aborto, mas tenha de esperar pelos 15 anos para poder discutir a mera hipótese da abstinência sexual?”, foi com esta pergunta que Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, reagiu à polémica que as suas recentes propostas para a Educação Sexual provocaram.
O deputado socialista João Torres, ex-líder da juventude partidária do PS, atirou que “felizmente para alguns o ridículo ainda não mata” e ao i afirmou que as propostas da JP apresentavam uma “visão retrógada”.
O líder da Juventude Popular reagiu, defendendo que “quem vive do comentário das letras grandes, será pequeno toda a vida”. “Segundo as suas teses”, tornou Rodrigues, o antigo secretário-geral da JS “prefere exorcizar o fantasma da abstinência na infância, ao passo que se banaliza a prostituição”.
António Pedro Barreiro, militante da Juventude Popular e um dos redatores das propostas clarificou ao i: “A abstinência já faz parte do referencial de educação para a saúde. Tudo o que pedimos é que este tema seja abordado a partir do 5° ano, como já sucede com a contracepção. Queremos que a educação sexual estimule uma liberdade responsável, mas isso só pode acontecer quando os jovens têm acesso a informação sobre todas as opções de vida, sem estigmas”.
Simão Ribeiro, líder da Juventude Social Democrata e deputado do PSD, não quis entrar na polémica, mas lembrou que “a educação para a saúde inclui mais que a sexualidade” e que é “mais importante discutir ideias do que debater interpretações de notícias sobre uma juventude partidária”.
Mas houve reações mais estridentes à notícia do i de ontem. “Se o objectivo é promover uma ‘liberdade responsável’, os alunos podem ter acesso a informação sobre a contracepção, mas também devem receber uma educação para a abstinência”, afirmava o documento dos jovens centristas que apresentava seis propostas de alteração ao Referencial de Educação para a Saúde. A Juventude Popular salientava que “não é aceitável que se planifiquem, a partir do 5º ano, aulas sobre métodos contraceptivos, mas que a primeira palavra sobre abstinência sexual seja proferida apenas no 10º ano” e houve quem não gostasse.
A deputada Isabel Moreira comentou numa rede social: “aceito sugestões para o título” da manchete. Daniel Oliveira, colunista do Expresso, foi mais humorado e perguntou: “Porque é que eles só querem que o Estado nos proteja das coisas boas?”.
José Eduardo Martins, ex-parlamentar do PSD, recomendou poesia à Juventude Popular. “O que falta a estes miúdos é poesia”, escreveu, citando versos de Vikram Seth que, traduzidos, começavam com “Fazer amor com um estranho é o melhor”,
Tiago Barbosa Ribeiro, deputado socialista, foi menos poético, sentenciando a ideia como “baseada em puros preconceitos ideológicos (sobre o corpo, a sexualidade, a sua naturalidade e as suas responsabilidades) que ignora anos de avanços”. Um “Tea Party à portuguesa”, terminou o presidente da concelhia do Porto.
Quem não deixou a ‘jota’ sem defesa foi o centrista Filipe Anacoreta Correia. Em reação aos ataques à JP, Anacoreta disse ao i: “Eu acho que ridículo é quem não querer viver na realidade. A abstinência é estudada em Inglaterra há mais de trinta anos e é evidente que tem de fazer parte da formação nesta área”.
Rodrigues dos Santos, que emitira um comunicado considerando o título de ontem como indutor de “erro” e semeador de “equívoco”, concluiu ao i: “Se o objectivo é promover uma – e estou a citar o documento – “liberdade responsável”, os jovens estudantes do 5.º podem ter acesso a informação sobre a contracepção, mas também devem receber um ensino que contemple a opção pela abstinência sexual”.