Banca portuguesa continua a ser porblemática, alerta Fitch

Agência de notação assinalou uma pressão intensa sobre o capital. FMI já tinha identificado este risco no último relatório

A baixa rentabilidade e os ativos de má qualidade dos bancos nacionais levaram ontem a Fitch a atribuir uma perspetiva negativa às instituições financeiras portuguesas. “Acreditamos que o setor tem de dar passos importantes para resolver a solvabilidade, numa altura em que as receitas estão sob pressão, afetadas pelos custos elevados com as imparidades, com o aumento das exigências de capital”, referem os responsáveis na nota que foi publicada esta quinta-feira.

As contas de agência de notação financeira são simples: face a estes riscos acredita que o PIB português cresça 1,2% em 2016 e 1,4% em 2017. Ainda assim, a perspetiva para os ratings dos bancos nacionais está “estável”, reflexo dos aumentos de capital e das reestruturações. Ao mesmo tempo, a venda de ativos não estratégicos também servirá para reforçar o capital dos bancos. Uma tendência que é visível nos bancos a operar em Portugal, uma vez que, nos últimos meses, têm levado a cabo a venda de vários ativos considerados não estratégicos. O mais recente caso é o da Caixa Geral de Depósitos, que vendeu 51% da corretora Rico no Brasil, por 203 milhões de reais (55 milhões de euros).

FMI diz que bancos são problema

A verdade é que estes alertas não são novos. O Fundo Monetário Internacional (FMI), no seu último relatório revelou que as medidas de corte de custos que foram implementadas não compensaram os efeitos negativos que as baixas taxas de juro e a fraca qualidade dos ativos continuam a ter na rentabilidade do setor. 
Deste modo, a tarefa de limpar o balanço da banca portuguesa está ainda “incompleta” e as “provisões que as instituições financeiras estão a registar permanecem insuficientes para cobrir na totalidade o crédito mal parado”, alerta a entidade.

A instituição pede uma “abordagem proativa por parte dos bancos para acelerar o processo de redução dos ativos problemáticos, que permitiria um maior foco na rentabilidade, através de mais medidas de redução de custos e ganhos de eficiência”.

Colapso da banca

A redução no número de colaboradores e o fecho de agências tem acontecido por toda a Europa. De acordo com dados divulgados em julho último pelo Banco Central Europeu, só no ano passado o número de agências ultrapassava os 188 mil, menos 15 mil do que em 2014. Já no que respeita ao número de colaboradores do setor, no total dos 28 países, havia menos 24 mil do que no ano anterior.

No caso português, só entre 2014 e 2015 o número de trabalhadores bancários em Portugal reduziu-se em 1392. Um período que ficou também marcado pelo fecho de mais de 300 agências. Mas os números divulgados por Frankfurt mostram que esta tendência não é de agora. Recuando até 2011, é possível perceber que, desde então, o corte de postos de trabalho supera em muito os sete mil. Em 2012, a estrutura de recursos humanos nesta área perdeu mais de 2500 trabalhadores.