“Não sei o que é não ser campeão”. A frase data de 1 de fevereiro, tem direitos de autor e resume (quase) na perfeição o que tem sido a carreira de Ljubomir Fejsa: campeão, campeão, campeão. De facto, para o médio sérvio já deve ser complicado lembrar-se de uma época em que não tenha acabado a festejar: aos 28 anos, e nos 11 anos que já leva de futebol sénior, soma nove títulos de campeão nacional – os últimos três no Benfica. É preciso recuar a 2008 e à sua segunda época como profissional, no Hajduk Kula para descobrir a última vez em que Fejsa não subiu ao palanque triunfal – as duas épocas no clube onde se formou são mesmo as únicas onde não foi campeão.
De 2008 para cá, três clubes de três países diferentes e nove medalhas de vencedor das respetivas ligas – para não falar nas Taças, Taças da Liga e Supertaças. A poucos meses de fazer 20 anos, Fejsa foi contratado pelo Partizan, gigante sérvio onde instantaneamente se tornou peça chave. Em três anos, três títulos de campeão e bilhete para Atenas, rumo a mais um crónico campeão nacional: o Olympiacos. Como seria de esperar, varreu os três campeonatos em que alinhou, embora no último tenha feito apenas um jogo, antes de se transferir em agosto para o Benfica. Noventa minutos que contaram… e a medalha está lá em casa a comprová-lo.
O Benfica era, assim, o primeiro grande desafio da carreira do médio sérvio: Fejsa aterrou na Luz numa altura em que as águias já somavam três anos de seca – o FC Porto era o tricampeão em título. Era preciso um vento de mudança – chamem-lhe amuleto, chamem super-herói… seja o que for: Fejsa é. Em três anos, e apesar de uma segunda temporada (2014/15) em que fez apenas cinco jogos, devido a uma grave lesão sofrida em abril de 2014, o 5 encarnado festejou mais três títulos nacionais, acabando invariavelmente aos saltos no Marquês de Pombal.
a melhor época da carreira
Se é verdade que nalguns desses nove títulos conquistados, Fejsa não teve uma influência grande – perdeu praticamente duas temporadas, uma no Olympiacos e outra no Benfica, devido a graves lesões, além do tal campeonato conquistado na Grécia por ter feito apenas um jogo antes de rumar a Portugal –, também é preciso realçar que este ano, o sérvio está a fazer jus à alcunha de Imperador que lhe foi colocada pelos adeptos encarnados. Dos 25 jogos feitos pelo Benfica, Fejsa cumpriu 21, totalizando já 1840 minutos – é o quarto mais utilizado do plantel no campeonato e na Liga dos Campeões, só atrás de Nélson Semedo, Pizzi e Lindelof.
Falhou apenas quatro jogos – três dos quais na Taça, onde ainda está por estrear esta época. No outro que falta referir, sim, a sua ausência fez-se sentir sobremaneira: no Dragão, pois claro. Um traumatismo no joelho esquerdo sofrido em Kiev, perante o Dínamo para a Champions, tirou-o do jogo com o FC Porto. Samaris fez dupla com Pizzi no meio-campo e a águia ressentiu-se – é verdade que conseguiu arrancar um saboroso empate, mas este caiu do céu (literalmente, com Lisandro a marcar de cabeça já nos descontos).
Aos 28 anos, Fejsa está a ter o melhor arranque de época da carreira. Peça fundamental para Rui Vitória, também entrou este ano no rol de capitães do Benfica, assumindo um papel fundamental na equipa também fora do campo. Com contrato até 2019 – renovado em fevereiro, altura em que disse a frase com que se abre este texto –, o camisola 5 nem equaciona estar noutro sítio – curiosamente, o Benfica é o primeiro clube onde passa mais de três temporadas.
“Gosto do Benfica, gosto de Lisboa e para mim, jogar aqui é incrível. Sinto-me bem e quando vou jogar sinto-me feliz, gosto de jogar aqui. Estes três anos passaram muito depressa. Tive alguns bons momentos, alguns maus porque estive lesionado algum tempo, mas isso agora já está ultrapassado. Quero ganhar mais um campeonato este ano e vamos ver o que mais”, dizia Fejsa em fevereiro. O primeiro prenúncio concretizou-se: o Benfica foi de facto campeão em 2015/16, já com Rui Vitória ao leme, depois de dois anos em que foi Jorge Jesus a conduzir o barco a bom porto. Sempre com o marujo Fejsa a observar os ventos.
tubarões a dormir
A julgar pelas palavras do jogador, um possível adeus ao Benfica, rumo a campeonatos de maior expressão, não deve estar para breve. Ao contrário de outras estrelas do plantel encarnado, Fejsa não tem sido alvo de grande cobiça, o que se explica acima de tudo pelo histórico de lesões recorrentes – além da idade: embora esteja longe de ser um veterano, é sabido que os grandes tubarões preferem investir em jogadores ainda quase na adolescência. Só assim é possível explicar, de facto, que não haja dezenas de clubes endinheirados a tentar levar Fejsa. A não ser que a aura do sérvio esteja a passar despercebida lá fora…
Certo é que o toque de Midas do polvo do meio-campo encarnado continua a manifestar-se em todo o seu esplendor: decorrida quase metade da temporada, o Benfica, tricampeão em título, é novamente líder com quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto, sete sobre o Braga e oito!!! sobre o Sporting de Jesus. Uma única questão se coloca: será que o talismã dos tricampeonatos vai dar o salto e festejar o primeiro tetra da carreira? Na Luz – onde também tal feito nunca se viu – está tudo a pensar no mesmo.