Quando chegaram ao fim os trabalhos de demolição do campo de refugiados de Calais, nos primeiros dias de novembro, François Hollande prometeu que “ninguém iria voltar para lá”. Os mais de 7 mil requerentes de asilo que habitaram a “Selva” foram transportados para diversos centros de acolhimento, espalhados por França, e aquela localidade nortenha – onde se encontra o principal acesso ao Reino Unido – foi declarada “limpa” e “segura” pelas autoridades francesas.
Mas apesar da promessa do chefe de Estado francês, centenas de migrantes estão a regressar a Calais e já existem, pelo menos, seis pequenos acampamentos na região. Segundo o “The Independent”, dezenas de pessoas chegam todas as semanas aos novos aglomerados e a maioria são antigos residentes da “Selva”, que abandonaram os centros de acolhimento.
Refere ainda o jornal britânico que, entre aqueles, contam-se vários menores, cujos pedidos de asilo foram rejeitados, muito recentemente, pelo Home Office, pelo que irão tentar entrar em território britânico através do Eurotúnel.
“Há pessoas (…) que têm família no Reino Unido, mas que lhes disseram que [a entrada no país] está agora barrada. Por isso, estão a voltar, para tentarem [entrar] à sua própria maneira”, explicou Julien Muller, voluntária de uma organização de solidariedade francesa local, confirmando a existência de seis “acampamentos secretos”, incluindo um perto de Norrent-Fontes, a cerca de 30 quilómetros a sul de Calais, onde se calcula que vivam cerca de 130 migrantes. “Há cada vez mais pessoas a chegar. Suponho que [o acampamento] vai aumentar nos próximos meses”, adiantou.
Uma previsão que é partilhada por Sue Clayton, professora na universidade londrina Goldsmiths, que rotula os novos aglomerados como “mini-selvas” e fala naqueles como resultado da inadaptação dos refugiados à vida que levavam nos centros de acolhimento.
“As autoridades vão encontrar cada vez mais acampamentos secretos, que irão continuar a surgir, uma vez que estas pessoas estão incrivelmente frustradas”, disse Clayton ao “Independent”. “Muitos fizeram uma longa viagem, desde os centros de acolhimento até à região de Calais, que lhes é familiar (…) [e] o mais próximo com um lar que podem arranjar”, explicou.