Argentina. Acusada de corrupção, ex-presidente fala em perseguição

Cristina Kirchner defende que apenas está a ser investigada porque se encontra na oposição

A antiga presidente da Argentina foi ontem acusada formalmente, pela justiça federal, pelos delitos de “associação ilícita” e “administração fraudulenta agravada”. De acordo com a denúncia, levada a cabo pelo juiz Julián Ercolini, Cristina Fernández Kirchner terá tido um papel decisivo num esquema de favorecimento e de atribuição privilegiada de contratos de obras públicas a uma empresa com ligações ao universo kirchnerista, na província de Santa Cruz. A antiga chefe de Estado queixa-se de perseguição política.

“‘Associação ilícita’ foi uma figura penal criada por governos de facto [e] utilizada por todas as ditaduras para perseguir dirigentes opositores”, publicou Kirchner na rede social Twitter, horas após conhecida a acusação judicial. Sob a mira da ex-presidente – que deixou o poder em dezembro de 2015 – estará a justiça argentina e o atual presidente, o liberal Mauricio Macri, uma vez que uma auditoria recente, realizada pelo seu governo, identificou algumas das alegadas irregularidades na concessão de obras à Austral Construcciones.

 

Asociación ilícita fue la figura penal creada por gobiernos de facto utilizada por todas las dictaduras para perseguir dirigentes opositores

— Cristina Kirchner (@CFKArgentina) December 27, 2016

 

 

Segundo a acusação de Ercolini, o esquema de corrupção funcionou entre 2003 e 2015, ou seja, durante o tempo em que Cristina Fernández foi primeira-dama – é mulher do falecido presidente Néstor Kirchner, que liderou a Casa Rosada entre 2003 e 2007 – e chefe de Estado. Refere o jornal argentino “Clarín” que, para além de identificar os delitos, a denúncia revela que a “associação ilícita” tinha como objetivo “apoderar-se ilegitimamente, e de forma deliberada, dos fundos destinados às obras públicas rodoviárias (…) da província de Santa Cruz”. A Austral Construcciones terá recebido perto de 3.3 milhões de dólares (cerca de 3,1 milhões de euros) em contratos desta natureza.

Juntamente com Kirchner, estão indiciados, pela justiça, o dono da empresa, Lázaro Báez, o antigo ministro do Planeamento Federal, Julio De Vido, e o ex-secretário de Estado das Obras Públicas, José López. Este último encontra-se detido, pela alegada envolvência num outro processo, mas o juiz Ercolini poderá decretar prisão preventiva para os outros dois, se entender como necessário.