BdP. Setor bancário com vários problemas apesar de melhorias

Rentabilidade do sistema bancário em quebra, apesar de melhoria nos rácios de capital e nos indicadores sobre o crédito mal parado.

O Banco de Portugal (BdP) revelou ontem que a rentabilidade do sistema bancário “sofreu uma quebra substancial” nos primeiros nove meses do ano, apesar de “o rácio de solvabilidade total” ter “aumentado ligeiramente” e de uma “redução do rácio de crédito de risco”.

Na sua análise aos desenvolvimentos recentes do sistema bancário português, o BdP resume que “apesar de ligeiramente positiva, a rendibilidade do sistema bancário nos três primeiros trimestres de 2016 decresceu em termos homólogos, devido, em grande parte, a uma diminuição expressiva dos resultados com operações financeiras, que tinham sido elevados no período homólogo”.

Também em termos homólogos “a margem financeira aumentou 5,8% nos primeiros três meses de 2016, seguindo a tendências observada desde 2014”. O documento do BdP revela que este “aumento resultou de uma redução dos custos com juros superior à diminuição dos proveitos com juros”.

O BdP revela ainda que os “níveis de solvabilidade aumentaram ligeiramente no terceiro trimestre de 2016, devido, sobretudo, à redução dos ativos ponderados pelo risco”. Assim, “o rácio entre o capital Tier1 e o ativo aumentou 0,2 p.p no terceiro trimestre de 2016, refletindo a redução do ativo”.

Na sua análise, o banco central aponta ainda que “o ativo total do sistema bancário continuo a diminuir de forma gradual no terceiro trimestre de 2016 refletindo a evolução do crédito concedido”.

Assim, no final de setembro, os bancos em Portugal tinham um ativo de 399 mil milhões de euros. Em 2015 o número era de 413 mil milhões e 405 mil milhões a meio de 2016.

No terceiro trimestre “houve ainda “um decréscimo do financiamento obtido no mercado interbancário – decresceu 2,5% entre o final de 2015 e o terceiro trimestre de 2016” com os depósitos totais a diminuir 0,7%:

O terceiro trimestre houve também uma nova redução da exposição dos bancos presentes no País ao financiamento dos bancos centrais, “passando este a representar 6,5% do total do ativo do sistema bancário”.

O BdP salienta que este é “o valor mais baixo desde o início do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF)”. O máximo tinha sido em junho de 2012 -64, 1 mil milhões de euros, 12,5% do total do ativo.

Qualidade dos ativos

A qualidade dos ativos foi outros dos aspetos apontado pelo documento, que aponta para uma redução ligeira do rácio do crédito de risco.

Este “situou-se em 12,6% no terceiro trimestre de 2016, reduzindo-se 0,1 p.p face ao trimestre anterior” sendo que a diminuição “do crédito reflete, sobretudo, os desenvolvimentos no segmento das sociedades não financeiras, no qual se conjugou uma diminuição do crédito em risco e um aumento do crédito”.

A análise da instituição liderada por Carlos Costa revela ainda que “no final do segundo trimestre de 2016 o endividamento das sociedades não financeiras cifrou-se em 110,8% do PIB, mantendo-se praticamente inalterado em relação ao trimestre anterior” enquanto o “endividamento dos particulares voltou a diminuir no segundo trimestre de 2016, para 78,2% do PIB”.

Fundo de resolução

O banco central revelou também que os bancos vão ter de pagar mais para o Fundo de Resolução, o veículo que financia os custos com as resoluções quer do BES, quer do Banif.

“A taxa base a vigorar em 2017 para a determinação das contribuições periódicas para o Fundo de Resolução é de 0,0291%”, indica a Instrução n.º 21/2016 do Banco de Portugal (BdP), publicada a 26 de dezembro e citada pelo Jornal de Negócios.

Em 2016 a taxa era de 0,02%. e a subida para o próximo ano é maior do que a verificada entre 2015 e 2016 (quando passou de 0,015% para 0,02%).

Sistema bancário paralelo

Também ontem se soube que os bancos portugueses vão passar a estar sujeitos a limites na exposição que podem ter ao “sistema bancário paralelo” .

De acordo com a definição do Banco Central Europeu este sistema engloba “as atividades de intermediário de crédito ou de transformação de liquidez e maturidade que ocorre fora do sistema bancário regulado”.

A Autoridade Bancária Europeia (EBA) definiu as orientações para os limites aos riscos que se podem assumir no sistema bancário paralelo

O BdP confere eficácia às orientações da EBA em relação a estas atividades que são concretizadas, por exemplo, por fundos, corretoras ou outras entidades que estão sob uma regulação menos eficaz, fazendo chegar crédito à economia..