1.Após a nossa ausência de alguns dias, não queríamos acreditar no que acabámos de ver: Augusto Santos Silva, cumprimentando o seu colega de Governo Vieira da Silva, comparou a negociação em sede de concertação social, a uma feira de gado. Esta declaração, por si só, já seria suficiente e estranhamente ridícula: um Ministro dos Negócios Estrangeiros, número dois do Governo, a referir-se à concertação social como uma…feira de gado! E com ar graçolas, a rir-se a bandeiras despregadas, como se fosse um graçolas profissional.
Só que – caso Augusto Santos Silva não se recorde – o Sr. Ministro não é um menino graçolas, nem um humorista profissional – é isso mesmo: um Ministro. E um Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
2.O número 2 de António Costa, o vice-líder do Governo da geringonça. Obviamente, Augusto Santos Silva não poderia proferir uma declaração deste nível. Dir-se-á que foi uma conversa privada, não entre dois Ministros, mas entre dois amigos e camaradas socialistas.
Poderíamos entender tal resposta caso tivesse ocorrido em evento não oficial, estritamente privado. Não foi: foi num evento político, numa reunião, co espírito natalício, do grupo parlamentar do PS. Não há conversas privadas em que seja possível um Ministro (um Ministro de Estado, por amor de Deus!) esquecer-se do seu cargo e do estatuto de elevada responsabilidade.
3.Mais ridículo ainda foi a justificação de Augusto Santos Silva – o Ministro dissertou sobre a natureza jurídico-social de um acordo celebrado nas feiras de gado, iniciando tal explanação com um sapiente e sempre arrogante “para quem nunca foi a uma feira de gado…”.
Sim, claro, porque o Ministro Augusto Santos Silva deve ter ido a muitas feiras de gado, deve ser um frequentador assíduo dos mercados de compra e venda da cabeças de gado bovino, caprino ou suíno. Até faz lembrar a rábula dos Gato Fedorento do rap dos matarruanos: “ Gado bovino? Tudo bem. Gado caprino? Nada contra. Gado suíno? Tudo bem! Mas é com a minha ovelha que eu quero estar fachabor!”.
4.Como o Ministro Santos Silva até insistiu que um acordo na feira de gado vale mais do que um acto notarial, do que um contrato celebrado por escritura pública ou documento particular autenticado – só podemos concluir que o acordo da “geringonça” foi celebrado numa feira de gado.
Por isso é que se diz que o Partido Comunista jamais romperá o acordo, independentemente do ataque aos direitos sociais que este Governo de António Costa promova: o PCP é a Miss Ovibeja (de que os “Gato Fedorento” falam na música dos matarruanos!) do PS.
Por amor de Deus! Pode este Governo socialista-, abençoado pelos comunistas, ser ainda mais ridículo? Um Ministro de Estado a justificar o seu erro com teorias gerais sobre a validade dos acordos de feiras de gado? Não façam dos portugueses estúpidos!
5.Obviamente, a referência às “feiras de gado” teve uma conotação pejorativa, que exprime publicamente o desprezo que este Governo tem pela concertação social.
É mais uma expressão da impunidade dos socialistas: como estão convencidos de que têm o Bloco de Esquerda e o PCP no bolso, o Governo sente-se como um poder ilimitado. Poder que não tem de prestar contas nem à Assembleia da República, nem à concertação social, nem à opinião pública. O Governo de António Costa quer, o Governo de António Costa tem.
Os patrões e os trabalhadores já vieram desvalorizar as declarações do Ministro Augusto Santos Silva apenas por uma razão: porque acharam que se tratou de um dislate do Ministro. Mas não foi um dislate – Santos Silva é demasiado experiente e é um político profissional, logo, não tem dislates desta natureza.
6.Os patrões e os trabalhadores não perceberam que esta frase é expressão de um sentimento de escárnio, de desprezo e de ataque à concertação social que é dominante neste extremo-PS. E que é defendida por este Governo – se não se chegar a acordo em sede de concertação social, o Governo avançará sozinho. A vontade de António Costa é, neste Portugal geringonçado, lei.
E a Lei Suprema Da República. Neste ponto, há que reconhecer que, desta vez, o Governo de Costa decidiu consultar e forçar a negociação em sede de concertação social por pressão do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
7.Enfim, escusado será perguntar como seria se fosse um Ministro do PSD ou CDS a dizer que a concertação social não passa – a rir-se e com ar de puro escárnio – de uma “feira de gado”: seria um escândalo, uma declaração a lembrar os tempos da “velha senhora”, uma falta de decoro institucional – e a Clara Ferreira Alves apareceria certamente a reclamar a demissão imediata do Ministro.
Como é Augusto Santos Silva foi apenas um “errozinho”, um episódio sem importância. Passemos à frente! E, neste Portugal geringonçado, vamos passar à frente certamente…
8.Dito isto, se o Governo tivesse um por cento que fosse da seriedade, da capacidade de trabalho, da resiliência dos nossos pastores e agricultores, Portugal seria certamente um país muito mais bem governado! Não é Augusto Santos Silva que deve gozar com os nossos pastores, agricultores ou vendedores de gado, para atacar a concertação social – são os pastores, agricultores ou vendedores de gado que podem gozar com o Ministro Santos Silva!
9.Vacas voadoras, feira de gado, bonecos de vacas voadoras oferecidos em conferência de imprensas – parece-nos que já são vacas a mais. Afinal de contas, em São Bento há um Governo – ou há uma gadaria? O Portugal geringonçado está cada vez mais ridículo…