Milhões de rolhas de cortiça portuguesas vão saltar das garrafas de champanhe um pouco por todo o mundo quando no sábado à noite. A maioria da produção do território português tem como destino o mercado externo (95%) e só as rolhas de champanhe representam 20% do total das rolhas exportadas, o equivalente a 137,1 milhões de euros, de acordo com os últimos dados da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR). As rolhas de champanhe são utilizadas para os chamados vinhos espumantes, gaseificados, sidra e são também usadas para vedar o champanhe.
“O pico mais alto de venda de cortiça é no período após as vindimas. As rolhas que vão sair das garrafas nestes dias já têm de estar na garrafa há algum tempo, mas será certamente um período onde a presença de Portugal no mundo se fará notar com muito relevo, muitos milhões de garrafas que utilizam rolhas de cortiça ‘made in Portugal’ serão abertas nestas semanas. Não haverá muitos outros produtos ou países tão representados nesta altura do ano em todo o mundo”, revela ao i, João Rui Ferreira, presidente da associação.
O mercado francês lidera o consumo de rolhas de champanhe (32,4 milhões de euros), em segundo lugar surge a Itália (29,9 milhões de euros), o que, no entender da associação, é natural “devido à importância destes mercados nos vinhos espumantes”. Já os Estados Unidos ocupam o terceiro lugar do ranking com 23,8 milhões de euros.
Mas o sucesso deste setor não se limite apenas ao champanhe. O número total de rolhas vendidas no mundo atinge os 12 mil milhões, “o que se dividirmos pelos 365 dias do ano e assumirmos um consumo de garrafas constante dá um número de 33 milhões de rolhas de cortiça ‘abertas’ por dia”, lembra o responsável.
E os números falam por si. Portugal é o líder mundial no que diz respeito às exportações: 2% das exportações portuguesas de bens é cortiça e 30% do conjunto das exportações portuguesas de produtos florestais. Já o volume de faturação do setor atinge os 950 milhões de euros.
João Rui Ferreira admite, no entanto, que nem sempre este setor viveu casos de sucesso e, exemplo disso, foi a crise vivida entre 2000 e 2009, vista pela associação como “uma década muito difícil”, justificada por diferentes fenómenos: desde logo o surgimento dos vedantes alternativos, todo o contexto da desvalorização do dólar e, mais recentemente, a grande crise internacional, que fizeram que houvesse alguma perda de quota de mercado. A partir daí, a cortiça viveu um período distinto com as exportações a aumentarem em 200 milhões de euros. “Para tudo isto muito contribuiu aquilo que foi a promoção internacional da fileira. Não chegava fazer bem os nossos produtos – não chegava ter uma indústria competitiva que tinha feito um investimento de mais de 500 milhões de euros em 10 anos, com uma autêntica renovação e remodelação dos seus recursos humanos, com uma redirecionalização das estratégias”, refere João Luís Ferreira.
Bater recordes
O responsável acredita que “2016 será o melhor ano de sempre” das exportações do setor e está previsto atingir os mil milhões a curto prazo, “quem sabe já em 2017”. E, no entender do presidente da Apor, a explicação é simples. “Todos os dias surgem novas aplicações e novas ideias, que vão desde a área da moda e do calçado, até à área dos transportes, onde a cortiça está claramente a dar cartas, reduzindo peso, consumos e transformando os ambientes mais acolhedores. Mas pode passar também pela área do desporto ou pelas torres eólicas, onde hoje também se utiliza cortiça. Ou seja, há uma série de novas aplicações, e até na área da química e da farmacêutica se está a estudar a sua utilização”, diz ao i.
As rolhas de cortiça continuam a liderar as exportações portuguesas de cortiça, assumindo o valor de 644 milhões de euros exportados (um aumento de 8,7%) seguido da cortiça como material de construção com 228 milhões de euros (mais 25,4%).
A verdade é que as rolhas de cortiça natural continuam a dominar as exportações portuguesas, ao totalizar 384, 5 milhões de euros exportados, o que equivale a 61% do total exportado de rolhas de cortiça. A seguir surgem as rolhas de champanhe e o terceiro lugar da tabela é ocupado por outro tipo de rolhas, ao fixar-se nos 122,8 milhões de euros, apresentando um peso de 19% em relação ao total exportado.
O top 5 dos principais países de destino da cortiça estão os EUA (20%), França (18%), Espanha (11%), Itália (10%) e Alemanha (8%). No caso das rolhas, este ranking inclui os mesmos países, mas numa ordem ligeiramente diferente: França (33%), EUA (30%), Itália (17%), Espanha (15%) e Alemanha (5%). “O mercado norte-americano está atualmente em franca expansão no que respeita ao consumo do vinho, por sua vez, é importante referir que a Alemanha é o principal mercado no segmento dos materiais de construção e decoração”, salienta.
Mas para João Rui Ferreira, para manter esta tendência de crescimento é preciso apostar em três eixos: “Contribuir ativamente para o esforço de ter em Portugal montados que possam produzir mais e melhor cortiça, dar continuidade ao esforço industrial para o aumento da fiabilidade dos nossos produtos e, ainda, e com particular relevância, o crescimento do valor acrescentado das nossas exportações, suportado, por um lado, na promoção internacional e, por outro, no desenvolvimento de soluções inovadoras”.
O setor conta atualmente com cerca de 670 empresas (80% estão em Entre Douro e Vouga), empregam cerca de nove mil trabalhadores e produzem 100 mil toneladas de cortiça. Conquistar mercados aos vedantes de plástico continua a ser um dos objetivos da associação, mas é uma “guerra” que já está a dar frutos. “ O setor da cortiça tem tido sinais da recuperação da quota de mercado, com o regresso à cortiça de alguns produtores que anteriormente experimentaram outros vedantes. Temos hoje um conhecimento muito mais profundo dos nossos concorrentes que nos permitem conhecer melhor os seus pontos fracos e as suas limitações. Associado a isto há uma evolução muito importante da qualidade e fiabilidade das rolhas de cortiça em todos os segmentos de valor”, conclui (ver coluna ao lado).