Afogada numa das piores crises económicas e políticas da sua história, a Venezuela vê o futuro cada vez mais negro e nem os bons ventos trazidos pela tentativa de aproximação de Nicolás Maduro e da oposição, liderada pelo Vaticano, conseguiu disfarçar a situação social dramática que se vive nas ruas daquele país sul-americano.
A última das medidas tomadas pelo presidente chavista, no dia 11 de dezembro, para dar a volta à situação financeira do país, foi a ordem de retirada de circulação das notas de 100 bolívares, sob o pretexto de combater as “máfias” que operam nas fronteiras da Venezuela, com o Brasil e a Colômbia.
O resultado foi catastrófico e contribuiu para agudizar ainda mais a crise, uma vez que na maioria das províncias do país, as trocas comerciais são realizadas com recurso a dinheiro e, nomeadamente, com as notas banidas. Às já habituais filas intermináveis junto aos supermercados, em busca de bens essenciais, somaram-se filas à porta dos bancos para entregar o dinheiro proibido e um país já caótico mergulhou ainda mais fundo no caos.
Na ânsia de controlar a onda de protestos e violência que começou a crescer a olhos vistos, fruto da falta de dinheiro e da impossibilidade de milhares de venezuelanos poderem receber os seus salários, o presidente Maduro acabou por ordenar o adiamento do prazo de entrega das notas de 100 bolívares até ao dia de hoje. Citado pelo jornal espanhol “El Mundo”, justificou a decisão como uma forma de “as pessoas poderem disfrutar das festividades de Natal com tranquilidade”.
Para além disso anunciou que as novas notas, com valores mais altos, só vão entrar em circulação em 2017, não porque o país não as tenha produzido a horas ou por não ter dado tempo suficiente para a transição, como reclamam as ruas, mas porque o país está a ser alvo de um “golpe monetário”. “Estamos a ser vítimas de uma sabotagem internacional, portanto as novas notas, que estão prontas, não podem ser enviadas para a Venezuela”, afirmou Maduro.
Do lado da oposição, as críticas atropelam-se. Jesús Torrealba, da plataforma política que tem maioria no parlamento da Venezuela, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), descreve o adiamento como uma “pirataria que custou vidas humanas e o assalto de centenas de lojas” e o governador Henrique Capriles acusa o executivo de ser “incompetente” e “corrupto”.
Aumento de assassinatos
O ano de 2016 foi duro para os venezuelanos e, de acordo com o Observatório Venezuelano de Violência (OVV), foi também profundamente mortífero.
Segundo os dados do último relatório daquela organização não-governamental, o número de assassinatos aumentou em comparação com o ano anterior. O OVV contabiliza 28.479 homicídios, ou seja, quase 92 mortes deste tipo por cada 100 mil habitantes. O estudo assinala ainda que, excluindo os países que se encontram a braços com conflitos armados, a Venezuela é o segundo país mais violento do mundo, apenas suplantado por El Salvador, que conta com 103 assassinatos por cada 100 mil pessoas. Para além disso, o Observatório calcula que a capital venezuelana, Caracas, é 15 vezes mais violenta que a Cidade do México, 14 vezes mais que São Paulo, no Brasil, e 10 vezes mais que Bogotá, capital da Colômbia.
O números são bastante superiores aos apresentados, em fevereiro, pelo Ministério Público venezuelano, mas o diretor da ONG justifica aqueles dados como resultado da “censura oficial” do governo.