1.O fim de semana foi dominado pela notícia sobre o futuro do NOVO BANCO: segundo informação quase oficial, o Banco de Portugal irá propor ao Governo a venda do banco criado na sequência do processo de resolução do BES ao fundo LoneStar (e não ao grupo chinês que liderava aparentemente a corrida para aquisição daquela instituição financeira). Este (presumível) volte-face foi anunciado por fonte directa e oficial do Banco de Portugal? Do Governo? Não: estes mantêm o silêncio.
2.Pelo menos, o silêncio público. Em privado, alguém – ou do Banco de Portugal ou do Governo – liga ou almoça com Luís Marques Mendes e conta-lhe as novidades. Objectivo: começar a preparar a opinião pública para a decisão final. Marques Mendes agradece a informação –a fonte do Governo agradece a Marques Mendes a divulgação da informação.
É um jogo de soma positiva. Luís Marques Mendes, quer seja um Governo PS, quer seja um Governo PSD, já não é uma mera fonte oficiosa – é uma fonte quase oficial. E nós agradecemos o seu papel como divulgador de informações de interesse estratégico nacional.
3.Dito isto, o que dizer da eventual compra pela LoneStar? Como é conhecido, a LoneStar é um fundo de investimento norte-americano, com sede em Houston (Texas), que tem uma carteira de investimentos muito diversificado (vai desde o imobiliário até produtos financeiros e gestão de dívida). O facto de ser um fundo de investimento – e não uma outra instituição bancária, um outro banco, nacional ou internacional, já no mercado – é positivo ou negativo?
4.Na nossa opinião é um factor indiferente. Porquê? Primeiro lugar, porque a solução ideal – que, porventura, seria a aquisição do NOVO BANCO por outra instituição bancária – já há muito tempo que seria inviável.
Nenhum banco, aqui ou lá fora, mostrou interesse na aquisição do NOVO BANCO – e a banca nacional já se confrontam com demasiados problemas e turbulências internas para se aventurar na aquisição de uma outra instituição bancária nacional. Sobretudo, atendendo aos riscos (muitos e ainda por calcular na sua integralidade) associados ao NOVO BANCO, em tempos de apertadas exigências europeias quanto ao balanço e aos rácios de capital.
4.1.Em segundo lugar, a solução que está a ser discutida é uma solução necessariamente de curto prazo. A solução de criação de um banco com peso para se afirmar no mercado interno (primeiro) e internacional (depois) será (seria?) o plano ideal para o médio e longo prazo. Mas isso implicaria investidores institucionais com capacidade e determinação para integrar o NOVO BANCO na sua estratégia de grupo para o futuro.
Tal revela-se, e revelou-se, impraticável: o NOVO BANCO é um activo que apresenta um risco excessivamente elevado, não sendo atractivo para o mercado. Esta é a verdade: em tempos de incerteza política e de instabilidade do sector bancário, não se brinca. E comprar o NOVO BANCO poderia ser uma brincadeira cara. É assim que os investidores pensam – e com alguma razão.
4.2.Portanto, a LoneStar poderá revelar-se uma escolha estratégica acertada, dada a sua experiência e história de sucesso na reestruturação de activos e posterior alienação. Não há dúvidas que o objectivo do fundo é proceder à reestruturação do NOVO BANCO, regularizar o balanço e depois vender.
Pode, pois, suceder que o NOVO BANCO recupere a sua goodwill, a sua atractividade, convertendo-se num elemento importante do sistema bancário nacional, criando-se, a prazo, um grande banco nacional com outros investidores. A Lone Star já pegou em activos mais problemáticos no passado – e valorizou-os significativamente. Oxalá faça o mesmo com o NOVO BANCO.
5.Independentemente do facto de o grupo chinês ter sido preterido em virtude da sua incapacidade para apresentar garantias no prazo devido, a verdade é que a escolha de um fundo de investimento norte-americano seria uma opção política certeira.
Primeiro, porque evitará que mais uma instituição financeira fique nas mãos de grupos chineses, promovendo a diversificação dos detentores de activos nacionais.
Em segundo lugar, poder-se-á enquadrar tal decisão num processo de crescente atracção de investimentos norte-americanos em Portugal. Ora, o investimento proveniente dos Estados Unidos da América é sempre muito bem-vindo e deverá inserir-se numa opção estratégica atlantista nacional.
6.Dito isto, duvidamos que o Governo da geringonça de António Costa aprove a venda do NOVO BANCO à LoneStar.
6.1.Primeiro, é conhecido que o Primeiro-Ministro encara a LoneStar com desconfiança, preferido há muito a solução chinesa. E António Costa não gostou da pressão que os responsáveis da Lone Star colocaram sobre o Governo, exigindo publicamente uma decisão muito rápida.
6.2.Em segundo lugar, António Costa sabe que a venda do NOVO BANCO a um fundo chinês seria tolerada pelos comunistas e bloquistas – já a venda a um fundo dos EUA gerará mais um momento de tensão no seio da geringonça. Já para não dizer que António Costa já havia falado com responsáveis chineses sobre a então muito provável venda do NOVO BANCO a fundo chinês.
6.3.Em terceiro lugar, António Costa tem medo que o negócio com a LOneStar se traduza numa liquidação disfarçada do Banco, com custos para os contribuintes (mediante o accionamento da garantia contra créditos litigiosos exigida pela LoneStar) e para os “stakeholders” do banco.
Mais: António Costa sabe que, caso o NOVO BANCO seja vendido ao fundo norte-americano, o Governo deixa de ter margem de manobra para intervir. Os responsáveis LoneStar não querem saber de António Costa e dos seus cálculos políticos para absolutamente nada.
7.Donde, a notícia avançada por Luís Marques Mendes da aquisição do NOVO BANCO pela LoneStar poderá revelar-se precipitada – o processo ainda pode ter mutas reviravoltas. António Costa não gosta do fundo norte-americano.
Julgamos, no entanto, que a venda ao Lone Star é a solução menos má para este delicado problema. O Governo deve aceitar a recomendação do Banco de Portugal, procedendo à alienação para o fundo com origem nos EUA.
8.Agora, a pior parte: muito provavelmente, meu caríssimo leitor, sabe quem irá ter de dar uns eurinhos para o Novo Banco? Pois bem, nós todos…