Francisco Louçã não tem dúvidas de que a solução de venda do Novo Banco "é má". E a primeira razão para isso tem que ver com os compradores que apresentaram propostas.
"São filibusteiros", aponta o histórico do BE, descrevendo o fundo Lone Star e o fundo Apollo como "aventureiros provados no mar alto da finança mundial".
O Lone Star – que oferece 750 milhões pelo Novo Banco – é apresentado como um fundo texano que "nasceu na crise dos anos 1990 e lançou-se com o crash dos tigres asiáticos, comprando propriedade imobiliária e empresas em dificuldades".
Ou seja, "o seu negócio é a dívida e a destruição de empresas ou a sua venda a curto prazo".
No caso da Apollo – e da Centerbridge, a que se deve juntar o grupo Violas -, Francisco Louçã diz que "gerem em conjunto o triplo de valores, mas seguem o mesmo caminho" da Lone Star.
A estratégia é, segundo o economista, "juntar fundos de pensões ou outros investidores para comprar dívida e conseguirem rentabilidade de curto prazo".
Para ilustrar a sua teoria sobre a natureza da Apollo, Louçã recorda que foi criada por "Leon Black, o braço direito de Michael Milken, o rei dos junck bonds, que veio a ser condenado à prisão em 1989 por vários crimes".
O modus operandi destes fundos faz Louçã prever que, caso comprem o Novo Banco, irão "utilizar as garantias do Estado e os créditos fiscais (e já lá estão cinco mil milhões), pedir novos empréstimos e retirar capitais do banco, espremendo também os créditos em curso na economia nacional". Tudo para "aumentarem as taxas de retorno".
Tudo isto, acredita Francisco Louçã terá consequências para o défice através de "contra-garantias" e de perda fiscal ao longo dos anos.
Tudo somado, Louçã acredita que "o Governo não alinhará nesta aventura ".
Qual é, então, a solução do economista para o Novo Banco? "Primeiro, fazer as contas do Novo Banco com rigor. Segundo, o banco não pode continuar a viver arrastado para o fundo pelas operações não bancárias e deve livrar-se delas", escreve o comentador.
Mas há mais: para Louçã, o Novo Banco deve continuar na esfera pública, mas fora da CGD, sendo a sua recapitalização feita "ao longo do tempo e para uma gestão do crédito que estimule a economia".
Por outras palavras, Louçã sugere uma nacionalização, que Centeno não afasta de resto na entrevista que dá hoje ao DN e que tem sido a solução apontada por BE e PCP.
Resta saber se esta nacionalização seria aceite pelo BCE e por Bruxelas e que impacto teria nas contas públicas portuguesas.
Uma coisa é certa: Centeno deixou já claro que a palavra final cabe ao Governo, independentemente do que for indicado como solução por Sérgio Monteiro, o ex-secretário de Estado de Passos Coelho que lidera o dossiê da venda do Novo Banco no Banco de Portugal.