Presidência. Marcelo, o eterno professor, regressa à escola [Vídeo]

O Presidente foi até uma escola de Cascais dar uma aula sobre política. Tema pouco abordado em contexto escolar, garantem os alunos. 

“É ele. É o Marcelo.” De mochila às costas e de smartphone a postos para a fotografia, dezenas de crianças com idades entre os oito e os dez anos aguardavam a saída do Presidente da República, após uma aula na escola Ibn Mucana [poeta árabe do século xi] em Cascais. A excitação dos mais pequenos era mais que muita e o Presidente retribuiu com um aceno e um sorriso de orelha a orelha, antes de responder às questões dos jornalistas.

Aula com mais de 1h30

Pouco passava das 11h20 quando Marcelo Rebelo de Sousa passou os portões da escola. À sua espera estavam várias pessoas, entre as quais o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, a secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, Isabel Alçada, assessora do Presidente para a área da Educação, e alguns elementos do corpo docente. O trajeto até ao pavilhão onde iria ter lugar a aula era curto, mas deu para Marcelo cumprimentar e mandar beijinhos para o ar às pessoas por quem ia passando. “Vejam lá se passam [de ano]!”, disse em tom de brincadeira a dois alunos.

Os cerca de 200 alunos que aguardavam a sua chegada levantaram-se prontamente aos primeiros passos do Presidente dentro do pavilhão. Só se voltariam a levar às 13h25, hora a que terminou a aula – o fim estava previsto para as 12h50. Mais de uma hora e meia em que o Presidente discorreu sobre as mais variadas temáticas: a Constituição, as funções presidenciais – nomeadamente as “menos conhecidas”, como ser comandante supremo das Forças Armadas -, os órgãos de poder e o poder local, passando ainda pelo ambiente, a violência, a toxicodependência e o sexo.

Sob o olhar atento de centenas de estudantes e com alguns interrupções devido a interferências no sistema de som, falou de História, mas também da sua história. Relembrou o seu envolvimento na criação da Constituição, “a lei mais importante de todas as leis”, e das várias partes envolvidas, entre as quais nomes conhecidos dos jovens que o ouviam, como Jerónimo de Sousa, Mário Soares ou Freitas do Amaral. “Uma Constituição é o resultado de um momento, é o acordo possível. As minhas ideias não eram iguais às de outros constituintes, como Jerónimo de Sousa”, afirmou o chefe de Estado.

Marcelo recordou também a época em que foi presidente da Assembleia Municipal de Cascais e vereador da Câmara de Lisboa. Segundo o próprio, foi precisamente essa experiência autárquica, e consequente proximidade com os cidadãos, que marcou o seu estilo de Presidência. “Um Presidente da República tem de fazer um milagre de agenda: estar onde pode estar o mais possível, e isto tem uma consequência – a sobre-exposição. Mas a quantos menos sítios se for, menos próximo se está [da população]. É o preço [a pagar]”, sublinhou. 

Estas analepses foram os momentos mais marcantes para Carolina, 15 anos. “Aprendi que à criação da Constituição estiveram ligados vários políticos que ainda estão hoje na política, como Jerónimo de Sousa e Marcelo Rebelo de Sousa – por acaso, não sabia que o Presidente tinha estado envolvido nem que era tão novo”, disse ao i.

Dúvidas e mais dúvidas

Carolina foi uma dos muitos jovens a fazer perguntas ao Presidente da República no final da sua intervenção. Os motivos que o levaram a candidatar-se à Presidência, a relação entre professores e alunos, o Brexit, o encontro com outros chefes de Estado, como Fidel Castro e o presidente do Egito, e até a inexistência de relações bilaterais entre Portugal e a Bolívia foram algumas das dúvidas dos jovens da plateia. “Perguntei como é possível dialogarmos uns com os outros tendo em conta que Portugal estava tão dividido. Ele disse que uma das coisas mais importantes para conseguir dialogar é ter humildade. Não podemos simplesmente achar que estamos certos em relação a tudo, temos de ouvir e perceber que, às vezes, as outras pessoas também estão certas”, explicou.

Já a sua amiga, também de nome Carolina, acanhou-se e não colocou nenhuma questão ao chefe de Estado. “Achei que as pessoas não iriam reagir muito bem. Gostava de ter feito uma pergunta sobre um tópico um pouco sensível – também por isso pensei duas vezes -, a adoção por casais gay. Queria saber se o Presidente está a pensar fazer alguma coisa em relação a isso, se é contra ou se acha, tal como disse, que temos de aceitar as pessoas como elas são”, afirmou a jovem, também de 15 anos.

Política nas escolas

Uma coisa é certa: foram vários os estudantes a destacarem o facto de a política ser um tema pouco abordado em contexto escolar. “No nosso dia-a-dia, não aprendemos bem como funciona o poder. Chegamos aos 18 anos, começamos a votar e não fazemos a mínima ideia de como as coisas funcionam. Agora, pelo menos, não estamos totalmente impreparados”, disse a primeira Carolina. 

Luísa Correia, professora de História e a responsável pela ida do Presidente da República à escola, assume essa lacuna, mas defende que estas iniciativas podem colmatar esta falha. “Acho que vale a pena abrir a escola ao mundo, por assim dizer. Claro que o facto de ser o Presidente tem um peso, mas tenho convidado ao longo dos anos outras pessoas da área da política e até de outras áreas. Acho fundamental para os alunos.”

Esta é, aliás, a segunda visita de Marcelo à Ibn Mucana, onde esteve há pouco menos de um ano, ainda enquanto candidato presidencial. A visita, aparentemente, teve repercussões: muitos dos alunos do 12.o ano que, no ano passado, assistiram à intervenção do Presidente “inscreveram-se em partidos políticos”, revelou a docente. “Obviamente, não foi só pela ação do Presidente ou pela minha ação”, argumentou a professora. Quem sabe.