A imprevisibilidade domina o futuro próximo. Seja a presidência de Trump na América, ou os próximos escolhidos pelo Comité Nobel, cujo critério se tem mostrado desconcertante.
Seja na Venezuela, onde Maduro semeia alucinações e falta quase tudo, ou no Brasil, onde o vírus da corrupção vai da esquerda à direita, destruindo o Estado e adiando a esperança numa regeneração do regime.
Seja no Médio Oriente, onde os conflitos se arrastam sem fim à vista, ou na Turquia, ponte euro-asiática, onde Erdogan impõe uma autocracia, mas é desafiado por atentados contra inocentes.
Seja na Europa, onde se tapam pudicamente os olhos à expansão do fundamentalismo islâmico – beneficiário das fraquezas ocidentais e do imenso torpor instalado –, enquanto se adensam as incógnitas, desde o Brexit às eleições em França, na Holanda ou na Alemanha. Os nacionalismos e os populismos alimentam-se da crise de confiança.
Em Portugal reapareceu a síndrome consumista. Os gastos no Natal voltaram ao nível pré-troika de 2011. Finge-se uma prosperidade que não existe.
Há portugueses em estado de euforia, novamente convencidos de que podem ‘empurrar com a barriga’ a prudência. A poupança caiu a pique.
Sem querer estragar a festa, convirá citar alguns indicadores recentes e preocupantes: crescimento anémico do PIB, dívida pública asfixiante, investimento retraído (público e privado), quebra na competitividade e recuo nas exportações.
Para complicar o cenário, há mais famílias sobre-endividadas, e aumenta o número de jovens ‘nem-nem’ (não estudam, não estão em formação, nem têm emprego).
O comportamento positivo do turismo tem servido para tapar alguns buracos, mas é melhor não alimentar ilusões. Trata-se de uma indústria sensível, com ‘flutuações de humor’ inesperadas.
É importante que o país esteja ‘descrispado’. Mas não chega. Quando deveríamos defender convictamente o projeto da União Europeia e do euro – duas das maiores conquistas do pós-Guerra –, assistimos às diatribes revigoradas das forças que sempre se lhe opuseram. O PCP já anuncia a rua, com descaramento, em campanha contra a moeda única.
Comunistas e outros radicais de esquerda querem hastear a bandeira do soberanismo serôdio e recuperar o ‘orgulhosamente sós’. Obedecem à cartilha do costume. Não mudaram e não mudam.
Finalmente, António Costa é pródigo nas benesses, como a dos chamados ‘lesados do BES’ – com mais sangria do contribuinte, para indemnizar quem investiu em papel de risco num banco privado falido. E mostra-se incapaz de reverter a trapalhada da Caixa, que soma e segue, sem recapitalização e quase em autogestão.
E – cereja em cima do bolo – o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, comparou o acordo de Concertação Social a uma «feira de gado». Um diplomata e um mimo.
Nesta conjuntura incerta em Portugal e no mundo, a situação dos media também inspira cuidados.
A maioria das empresas enfrenta delicados problemas financeiros. Escasseiam os recursos para assegurar um jornalismo exigente.
O jornalista está acantonado nas redações. Sai pouco, pesquisa menos e a investigação é um sonho adiado. A agenda das televisões é limitada. Privilegia o oficial e o fait divers, sem grande rasgo.
A tabloidização mediática progrediu e impôs-se. Não se pára para pensar. O futebol e as novelas dominaram as audiências. É uma anestesia eficaz.
Os atores políticos debitam o discurso estudado, sem serem incomodados. Há exceções. Mas nota-se um rolo compressor que condiciona os jornalistas, a começar pela precarização do emprego.
Arrepia a leitura dos dados disponibilizados pela APCT, que audita as tiragens. Há jornais supostamente ‘de referência’ com vendas irrisórias em banca. São insustentáveis.
O mais provável é que esses títulos se refugiem no digital já em 2017, mantendo edições em papel apenas ao fim de semana, destinadas a um nicho de leitores.
No audiovisual, há rumores consistentes sobre a possibilidade de as principais televisões privadas mudarem de mãos.
O momento é oportuno. Balsemão tem dito que não, mas sobra-lhe o problema de sucessores. A Prisa está confessadamente vendedora da TVI, para aliviar as contas do grupo em Espanha.
Em ano de autárquicas, lubrificam-se os motores longe das vistas do público. Lançam-se balões de ensaio. Há cartas escondidas e um certo frenesim que percorre a política portuguesa. Belém deu o exemplo e despachou o Orçamento do Estado em 24 horas, confiado em que «somos os melhores dos melhores». Oxalá não se engane…