Com todo o respeito pelos que têm a opinião contrária, eu acho que Costa fez bem em não cancelar a visita.
A India, que já é o país mais populoso do mundo, com 1.300 milhões de habitantes, tem a sua economia a crescer a taxas de 7% ao ano. Tem um enorme interesse para Portugal em termos económicos. A India ainda não ultrapassou a China em poder económico, mas penso que não faltará muito até isso acontecer, por uma razão simples: a India é a maior democracia do mundo.
Sendo uma democracia, os governantes têm de se preocupar mais em distribuir a riqueza criada do que numa ditadura como a China, onde há vagas de suicídios em fábricas por explorarem os empregados com excesso de trabalho (a solução encontrada foi diminuir os prémios de seguro pagos às viúvas dos suicidas, o que parece sinistro mas é verdadeiro), e onde a corrupção grassa, já tendo sido condenado por esse motivo um chefe provincial do partido comunista; aparentemente o homem até foi cauteloso, mas mandou o filho estudar para Inglaterra, onde fazia vida de playboy, o que deu nas vistas.
Seria também curioso em saber o que pensariam os indianos em caso de cancelamento da visita. Portugal tem um prestígio muito grande nos países da costa dos oceanos Indico e Pacífico, por termos sido os primeiros a chegar lá por via marítima. Do Quénia à Malásia, pude constatar que dizer que se é português impõe algum respeito nos interlocutores.
Seria sem dúvida uma grande afronta para os indianos se a visita, preparada durante meses, fosse cancelada à última hora, especialmente por parte do primeiro chefe de governo europeu de origem indiana. Um erro estratégico em toda a linha. Soares, onde estiver, estou seguro que apoiará a decisão de António Costa. Porque Soares, como todos sabemos, era um pragmático.