A perspetiva de mudanças nos transportes levou a uma incerteza sobre o futuro da procura de petróleo. Mas o mercado continuará a crescer, e o ritmo de mudança da frota rodoviária global e a necessidade de investimento para manter o volume de produção de petróleo vão continuar a ditar o crescimento do mercado.
Um relatório da IHS Markit antevê que a procura de petróleo continue a crescer nas duas próximas décadas, mas as possíveis mudanças disruptivas relacionadas com o setor dos transportes – que representa metade dos 96 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) consumidos em 2016 – acrescentam alguma incerteza.
Também a Agência Internacional de Energia (AIE), no seu “World Economic Outlook” para 2017, prevê que o consumo global de petróleo só atinja o pico depois de 2040, o que mantém inalteradas as perspetivas de longo prazo para a oferta e procura mesmo com o Acordo de Paris, que tem como objetivo reduzir a dependência global dos combustíveis fósseis e tentar limitar a subida da temperatura média global.
No seu cenário-base, a AIE aponta para uma procura de 103,5 milhões de barris de petróleo por dia em 2040 (em 2015 foram 92,5 milhões), com a Índia como principal fonte de crescimento e a China a ultrapassar os EUA como maior consumidor. A agência considera que o mercado petrolífero será deficitário na primeira metade de 2017 caso se concretize o corte de produção acordado pela OPEP e por outros 11 países produtores, e a procura aumente.
No relatório mensal sobre o mercado petrolífero, a AIE prevê um défice de 600 mil bpd no primeiro semestre deste ano porque, além do corte, reviu em alta ligeira os cálculos da procura global de petróleo para o próximo ano.
A AIE antevê que a procura global em 2017 tenha um crescimento de 1,4 milhões bpd, mais 110 000 bpd do que o previsto em novembro.
O recente acordo entre os países da OPEP e países não OPEP, o primeiro desde 2001, vai reduzir a produção em 1,8 milhões bpd. “Se a OPEP e os não OPEP implementarem rigorosamente os seus acordos, os inventários globais vão começar a reduzir na primeira metade do próximo ano”, sustenta o relatório da agência.
Impacto
Já a IHS Markit aponta para que eventuais políticas cada vez mais rígidas em relação à propriedade de carros e políticas de utilização – impostos de circulação e de combustível e restrições de uso nas cidades, por exemplo –, mudanças no comportamento dos consumidores, novas tecnologias e o ritmo do crescimento económico, e bem assim o impacto de novas formas de mobilidade como os serviços de partilha de deslocações, como a Uber ou a Cabify, e os veículos elétricos e autónomos são fatores de incerteza em relação à procura de petróleo.
Uma combinação destes fatores poderá previsivelmente levar a um pico da procura de petróleo ou levá-lo a atingir novos recordes.
De acordo com o relatório, independentemente da forma como estes fatores evoluam, a natureza gradual das transições e a longa vida das frotas que estão atualmente nas estradas farão com que o impacto na procura de petróleo se dê a um ritmo lento.
materialização
O documento da IHS Markit revela que 96% dos automóveis vendidos em 2016 tinham motores de combustão e que o tempo de vida estimado seja de 15 anos, o que significa que o impacto das novas tecnologias automóveis demore tempo a materializar o seu efeito nas frotas automóveis e na procura de combustível.
“Quando olhamos para o futuro do automóvel e para o impacto de fatores-chave como a venda de carros elétricos, vemos uma mudança lenta da frota global a reduzir o efeito das novas tecnologias na procura global do petróleo”, diz um especialista em energia da IHS.
“No entanto, o futuro do automóvel – e as fontes de energia que o movem – não está de certeza predeterminado e há potencial para surpresas no futuro, positivas ou negativas”, acrescenta.
O relatório assinala ainda que, mesmo com uma procura mundial de petróleo mais lenta ou mesmo estagnada, as principais fontes da oferta de petróleo continuarão a ser uma importante resposta à procura global.
A IHS Markit estima que o mundo precise de encontrar ou substituir 45 milhões de bpd até 2040 (mais de metade do consumo mundial em 2016) para responder à procura. Destes, 37 milhões de bpd são para substituir as produções em declínio e 8 milhões para responder ao aumento da procura.
“O mais provável é que o futuro dos transportes venha com um grande número de variáveis, desde a atividade económica às políticas governamentais e às mudanças das preferências dos consumidores. Navegar nesta incerteza e perceber como estas numerosas variáveis vão interagir e influenciar-se umas às outras será decisivo”, diz o diretor da IHS Energy.