A guerra entre organizações criminosas continua a fazer mortos nas prisões brasileiras e os primeiros dias do novo ano sugerem que a onda de motins está para durar. Depois de Manaus (1 de janeiro) e Boa Vista (6 de janeiro), uma nova rebelião teve lugar em Nísia Floresta, perto de Natal, na Penitenciária Estadual de Alcaçuz – a maior do estado brasileiro de Rio Grande do Norte – e no Pavilhão Rogério Coutinho Madruga, uma prisão de alta segurança, anexa à penitenciária.
Os guardas prisionais perderam o controlo do complexo na tarde de sábado e, só após a intervenção da polícia militar, com veículos blindados e o apoio de um helicóptero, na madrugada deste domingo, foi possível pôr fim aos confrontos.
Dez mortes foram imediatamente confirmadas pelas autoridades, assim que foi retomado o controlo do estabelecimento prisional, já que os corpos das vítimas estavam espalhados pelo pátio principal. Mas o número deverá ascender a várias dezenas, tendo em conta os relatos que se ouvem entre os familiares dos detidos, que se juntaram à porta da prisão.
À semelhança do que aconteceu nos motins dos primeiros dias do ano – e também nos de outubro, em prisões nos estados de Roraima e Rondónia – ali foram igualmente decapitados vários detidos. E também ali foram filmadas e difundidas pela internet imagens das decapitações e da barbárie.
As parecenças entre este motim e os anteriores são, aliás, demasiado óbvias e não se ficam apenas pelo modo macabro comos os assassinatos ocorreram. Em todos eles contam-se, pelo menos, três pontos em comum: um complexo prisional sobrelotado – segundo a Secretaria de Estado da Justiça e de Defesa ao Consumir (Sejuc), a Penitenciária Estadual de Alcaçuz albergava 1150 prisioneiros, num espaço com capacidade máxima para 620 pessoas –; a presença significativa de presos com ligações a gangues e ao narcotráfico; e uma deficiência preocupante de condições básicas de segurança e controlo nas infraestruturas da prisão. Se a isto se agregar um estado de guerra, declarado e permanente, desde julho de 2016, ordenado pelas chefias das organizações criminosas, desde São Paulo e do Rio de Janeiro, as prisões do Brasil têm tudo para continuar a ser, durante 2017, o palco predileto para rebeliões e ajustes de contas.
De acordo com a imprensa brasileira, o motim em Nísia Floresta envolveu membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Sindicato do Crime do RN, ambos ligados ao narcotráfico. O primeiro, de São Paulo, é um dos principais gangues brasileiros, que opera a nível nacional, e o segundo é um outro grupo criminoso que atua no estado do Rio Grande do Norte e, particularmente, na região de Natal.
Refere o “Estadão” que as duas fações estão separadas, naquele complexo, mas um grupo de prisioneiros do Pavilhão Rogério Coutinho Madruga terá iniciado a revolta após o horário de visitas, no sábado à tarde, e obrigado os restantes detidos naquele complexo de segurança máxima a invadir um dos pavilhões da penitenciária. Fugiram então das celas, saltaram o muro e atacaram os guardas. Lograda a invasão, pegaram fogo a colchões e, com pedras, facas e algumas armas de fogo, procederam, então, à perseguição e homicídio dos seus rivais.
Retomado o controlo da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, as autoridades estão agora atentas a eventuais retaliações que possam vir ter lugar noutras prisões do Brasil.