A Direção-Geral da Saúde está convicta de que o pico da gripe já passou e que não haverá uma segunda onda de casos. A previsão foi feita ontem pelo diretor geral da Saúde Francisco George numa conferência de imprensa em que as preocupações com o frio estiveram também em destaque. Mesmo com o arrefecimento nos próximos dias, a autoridade de saúde não acredita que os casos de gripe aumentem.
“É provável que tenhamos iniciado esta semana a descida da incidência da gripe, ou seja, dos novos casos, mas temos de esperar dois ou três dias para ter a certeza”, disse Francisco George, admitindo que, mantendo-se esta tendência, dentro de quatro semanas a atividade de gripe no país pode ser residual.
Há dois anos, no inverno de 2014/2015, depois de um momento de estabilização, os casos de gripe tornaram a aumentar. Nesse ano, o pico só foi observado no final de janeiro, com 175,3 casos de síndrome gripal por 100 mil habitantes notificados por semana. Nesse ano, em que os vírus em circulação eram idênticos aos deste inverno, a atividade gripal foi considerada de elevada intensidade. Este inverno, o último balanço do Instituto Ricardo Jorge aponta para uma atividade moderada com tendência estável, com 82,4 casos por 100 mil habitantes.
Francisco George explicou que as autoridades da saúde europeias e mundiais estão atentas à evolução do vírus e em contacto umas com as outras. “Estamos em permanente contacto com os nossos colegas da União Europeia. Ainda hoje [ontem] foi enviado um relatório sobre a situação em Portugal a fim de ser comparada com outros países a pedido do meu homólogo francês. Também temos acompanhado a evolução doutros países fora da UE, nomeadamente através da Organização Mundial da Saúde”, disse o responsável.
Nesse relatório, elaborado pela DGS em conjunto com o Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA), é referido que “o excesso de mortalidade observada à data da semana passada incidia especialmente acima dos 75 anos e em particular acima dos 85 ou mais anos”.
Até agora, a epidemia da gripe já levou ao internamento de 95 portugueses nas unidades de cuidados intensivos. Na sua maioria, não tinham feito a vacina. Destes, 11 morreram, a maioria idosos. Uma situação que não é, de todo, novidade já que o vírus da gripe precipita, geralmente, o processo de fim de vida para doentes crónicos idosos ou com outras patologias associadas. Estes são grupos, aliás, considerados de risco também perante a descida abrupta dos termómetros.
Frio chega amanhã
As temperaturas vão descer já a partir de amanhã entre 4 oC e 9 oC, e a vaga de frio vai durar até ao próximo fim de semana (dias 20 ou 21), com temperaturas mínimas de zero graus nas regiões litorais do país e inferiores a zero (entre os -3 oC e os -7 oC) nas regiões do interior. Já as máximas oscilarão entre os cinco e os dez graus. A única zona do país que passará esta barreira será o Algarve, que pode chegar aos 12 oC ou 14 oC. Com este cenário em mente, e a título preventivo, a DGS deixou oito recomendações à população. Ainda assim – e mesmo com um subtipo do vírus da gripe mais resistente este ano –, a autoridade da saúde está convicta de que o caos a que se assistiu nas urgências nos primeiros dias do ano não se tornará a repetir.
O subtipo A H3N2
Já Graça Freitas, subdiretora da DGS, sublinhou que o número de casos “não foi mais dramático do que nos anos em que o H3 é o vírus dominante”. Apesar da previsão otimista, a subdiretora da Saúde avisou que “nas próximas semanas haverá ainda atividade gripal”, pelo que deixou um apelo: “quem não se vacinou, ainda o pode fazer”.
Segundo os dados disponibilizados pela DGS, há ainda 20 mil vacinas da gripe disponíveis no Serviço Nacional de Saúde (SNS) prontas a ser administradas. “A vacina reduz a probabilidade de morte por gripe”, lembra Francisco George.
Segundo Graça Freitas, o facto de basicamente já se ter escoado “a totalidade das doses” adquiridas pelo Estado é boa uma notícia, que significa que os portugueses estão cada vez mais sensíveis aos benefícios da vacinação. “Quero agradecer a todos os enfermeiros na concretização do plano de vacinação”, sublinhou Sérgio Gomes, enfermeiro-chefe da equipa de enfermagem da DGS.
“O objetivo do Ministério da Saúde é ficar sem qualquer dose de vacina”, disse ainda Graça Freitas. Este ano, o papel da vacina nos grupos de risco ganha especial força, já que o vírus do subtipo A H3N2 é predominante, não só em Portugal como na Europa. Este vírus é mais perigoso para quem já é fisicamente mais vulnerável, explicou ao i, no início da época da gripe, o pneumologista e consultor da DGS, Filipe Froes.