Arranca hoje o quarto aumento de capital do BCP desde 2011. O banco liderado por Nuno Amado consegue, desta forma, arrecadar ao todo 4,3 mil milhões de euros. Estas operações têm servido não só para cumprir as metas de solidez definidas pelos órgãos reguladores – Banco Central Europeu e Banco de Portugal – como também para dar um maior fôlego à instituição financeira, a fim de expandir a sua atividade.
O certo é que este “truque” tem ocorrido com mais frequência nos últimos anos e não é praticado apenas pelo BCP. A maioria dos bancos portugueses tem vindo a recorrer a estas operações para cobrir o elevado volume de imparidades no crédito e, acima de tudo, para fazer face às crescentes exigências regulatórias.
O que acontece hoje? O BCP vai avançar com um aumento de capital de 1,3 mil milhões de euros, com o objetivo de reembolsar a ajuda estatal e reforçar os rácios de capital. O banco vai emitir 14,16 mil milhões de novas ações, a 9,4 cêntimos cada uma. No entanto, o encaixe já está garantido, uma vez que a Fosun e os bancos colocadores tomaram firme a operação.
Riscos versus vantagens
A verdade é que a oportunidade de participar no aumento de capital do BCP “é arriscada, tanto por fatores históricos como por razões intrínsecas à realidade atual que dificilmente possibilitam a valorização do título em bolsa”. A garantia é dada ao i por José Correia, gestor da XTB. Perante esse cenário de risco, o analista lembra que a instituição financeira tem vindo a acenar com o pagamento de dividendos a partir de 2018. E estes riscos são admitidos pelo próprio BCP que, no prospeto divulgado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), admite que “qualquer dos riscos que se destacam no prospeto poderá ter um efeito substancial e negativo na atividade, resultados operacionais, situação financeira e perspetivas futuras do grupo”, sendo igualmente reconhecido que podem existir outros riscos “desconhecidos”, assim como fatores hoje “considerados como não relevantes” e que, no futuro, se mostrem significativos.
No entanto, acompanhar a operação dependerá das expetativas que cada investidor terá para a evolução dos resultados do banco, nomeadamente no que se refere à capacidade de serem atingidos os objetivos que o BCP apresenta no seu plano de negócios. E a par disso há que contar com o baixo preço da operação, que poderá atrair investidores.
Anteriores operações
O anterior reforço de capital foi anunciado em junho de 2014, ou seja, pouco antes do colapso do Banco Espírito Santo (BES), e foi o que teve maior dimensão. Os acionistas injetaram 2,24 mil milhões de euros no banco e grande parte do encaixe (1,8 mil milhões de euros) serviu para reembolsar ajuda estatal, ficando por pagar 750 milhões. Essa situação só agora vai ser regularizada, depois de ter derrapado o timing previsto pelo banco para fazer esse reembolso: início de 2016.
Nessa altura foram emitidas 34,48 mil milhões de novas ações, a 6,5 cêntimos cada, um preço que não está ajustado ao recente “reverse stock split” que foi realizado. Já em setembro de 2012, o BCP tinha aumentado o capital em 500 milhões de euros. O preço de subscrição foi fixado em 0,04 euros por cada ação e representou um desconto de 53% face ao valor dos títulos.
O nível de procura acabou por superar a oferta em mais de 63% e a instituição financeira conseguiu, desta forma, evitar a entrada do Estado no seu capital, uma vez que logrou colocar a totalidade do aumento de capital junto de privados. A subscrição estava garantida pelo Estado, ou seja, estava previsto que o montante que não fosse subscrito pelos investidores particulares fosse feito pelo Tesouro, o que acabou por não ser necessário.
Também em maio de 2011, o BCP tinha avançado com uma operação semelhante, conseguindo encaixar 260 milhões de euros. Na altura, o banco era liderado por Carlos Santos Ferreira e a procura foi 1,64 vezes superior à oferta colocada no mercado. A emissão de ações ordinárias constituiu a terceira fase do processo de aumento de capital do banco. Antes tinha incorporado reservas num valor de 120 milhões de euros e realizado uma oferta pública de troca-conversão em ações de valores mobiliários perpétuos subordinados (VMPS) de 990 milhões de euros. Esta foi a resposta encontrada pela instituição financeira para responder às exigências da troika, que pretendia que a banca atingisse rácios de 9%.
As ações do banco fecharam a sessão de ontem a ganhar 0,63% para os 0,16 cêntimos.