É hoje dia 20 de janeiro de 2017, e as conversas nas ruas são sobre as reformas, que os aposentados da função pública já começaram a receber. São mais baixas do que no ano passado, pois 50% dos duodécimos do 13º mês ficam retidos até novembro. Os reformados estão escandalizados, muitos estão aflitos. Mas, no parlamento, BE e PCP foram incapazes de se unir para chumbar esta medida injusta.
Quanto aos trabalhadores no ativo, a coisa pia mais fino. O compromisso era o de aumentar o salário mínimo para 557 euros ilíquidos este ano, para se atingir os 600 euros ilíquidos em 2019. Recorde-se que, durante os anos da troika, o salário mínimo esteve congelado nos 485 euros mensais ilíquidos.
Os patrões queixaram-se que o aumento para 557 euros é demasiado elevado, e até a insuspeita OCDE (organização de estudos económicos que agrupa os países mais industrializados, e da qual Portugal faz parte) veio dizer que o salário mínimo português é alto (tendo em conta o valor do que produzimos, logicamente). Por isso, na concertação social, onde estas medidas são discutidas, mas não definitivamente aprovadas, surgiu a ideia de baixar a TSU (o desconto para a segurança social feita pelos empregadores), provisoriamente, para os novos contratados com o salário mínimo. Isto representa de facto uma queda da remuneração do trabalhador, embora este não se aperceba. Medidas semelhantes estão a ser implementadas em vários países europeus.
BE e PCP indignaram-se, e a CGTP, por via do seu secretário-geral, Arménio Carlos, falou em tom claramente ameaçador (deve ter imensas saudades de lançar o caos nos transportes públicos da grande Lisboa). Baixar a TSU para os novos empregados com o salário mínimo não pode ser, porque corresponde a uma queda da remuneração. Para estes dois partidos, e também para o PSD, é preferível que as pessoas se mantenham no desemprego ou que imigrem, sazonal ou definitivamente, do que encontrem emprego em Portugal.
Com esta discordância na gerigonça, desfez-se a maioria parlamentar que apoia o governo. Mas, na ótica do BE e do PCP, os desempregados não podem ser ajudados a encontrar emprego, e os reformados podem ser livremente sacrificados.
O PS, mas sobretudo o BE e o PCP, deviam lembrar-se que o voto de um reformado vale tanto como o de um trabalhador no ativo. E as taxas de juro estão instáveis, porque quando os investidores olham para Portugal voltam a referir-se a duas palavras que pareciam afastadas: risco político.