Manuel Alegre deixou claro que não concorda com a realização de eleições antecipadas. De facto, tal teria consequências económicas negativas para o país: as taxas de juro subiriam ainda mais, e os projetos de investimento que começam agora a ser aprovados seriam metidos na gaveta por uns meses. Mesmo assim, Alegre diz que a proposta de Assis tem de ser considerada, e que este tem todo o direito de a fazer.
O mais bizarro é que Alegre confessa-se um apoiante da atual solução governamental. Então, porque defende o direito de Assis fazer a sua proposta? É em nome de um valor mais elevado: a liberdade de expressão. Segundo Alegre, não podem calar Assis porque o PS é um partido que acolhe no seu seio diferentes opiniões. Manuel Alegre viveu boa parte da sua vida sem liberdade de opinião, por isso, para ele, esse é um dos valores essenciais.
De resto, e apesar de pertencerem ao mesmo partido, os dois homens são bastantes diferentes: Alegre é um pouco ingénuo, um puro, que quando concorreu à presidência da República começava os seus tempos de antena a declamar a “Trova do Vento que Passa”, indo possivelmente contra todas as regras do marketing político. Pertence aos mais esquerdistas dentro do PS.
Assis, por seu lado, é um centrista, e foi em tempos uma estrela, conquistando a câmara de Amarante (distrito do Porto) com 27 anos de idade, tornando-se o mais jovem presidente de câmara do PS, se não do país. Desde então, tem acumulado derrotas, a mais importante das quais terá sido a de se tornar secretário-geral do PS, numa eleição que perdeu para António José Seguro. Desde então, as suas aparições resumem-se a ver os jogos do FCP no Estádio do Dragão ao lado de Pinto da Costa, e de tempos a tempos ter algumas ideias desestabilizadoras, como agora é o caso. É um homem pleno de ambição, mas cujos talentos não chegam ao mesmo ponto.