Desse púlpito privilegiado, Portas poderá semear a confusão na política nacional, quer no geral, quer no seu próprio partido. Podia fazer uma vida sossegadinha trabalhando no setor privado e ganhando umas massas valentes, mas ficar quieto e calado não lhe está no sangue. Agradeço à leitora que me passou a informação desta novidade.
Sobre Portas, pouco há a dizer, pois todos os conhecemos bem. Menos conhecido é o diretor de informação da TVI, contente com a contratação de Portas: o jornalista Sérgio Figueiredo, que já se viu envolvido em algumas polémicas.
Há alguns meses foi chamado ao parlamento para prestar declarações sobre um rodapé no ecrã da TVI (ou da TVI 24, já não me lembro), rodapé esse que dizia que o Banif estava a passar por dificuldades financeiras, o que era verdade, mas cuja divulgação provocou uma corrida aos depósitos, agravando a situação. Sérgio Figueiredo deve ter muito orgulho nisso: ajudar a levar um banco à falência não é para qualquer um.
Lembro-me de outra história, muito mais antiga (15-20 anos) sobre Sérgio Figueiredo, então jornalista do Jornal de Negócios. Uma ferramenta essencial para o trabalho de jornalista económico é ter um terminal da agência noticiosa Reuters. Todavia, nem todos os terminais são iguais, sendo uns mais sofisticados (e caros) do que outros.
Num terminal profissional, quando se dá uma notícia importante, o que surge primeiro é o título (ex: INE: taxa de inflação em dezembro foi de 0,6%) e a hora dessa notícia (ex: 10.00 horas). Depois, a notícia vai crescendo, parágrafo a parágrafo: no caso da inflação, é escrito quais os bens e serviços aumentaram mais e menos de preço, e no fim as reações dos analistas. Mas, aqui é o ponto crucial: tudo isto se vai desenrolando no tempo, mas a hora original da notícia (10.00) não é alterada.
Todavia, Sérgio Figueiredo, não tendo um terminal profissional, não sabia como a notícia era construída, e acusou os analistas dos bancos e a Reuters de “inside trading”, isto é, de terem acesso à notícias antes de todos os outros: pois de que outra forma poderiam já ter as suas análises feitas às 10.00, hora de divulgação da notícia?
A Reuters portuguesa deve ter convidado Sérgio Figueiredo aos seus escritórios e exemplificado como se constroem essas notícias, os bancos não se aborreceram, Figueiredo escreveu um texto a explicar o engano, e tudo acabou em bem.
Agora, se for ele a entrevistar Portas, temos todas as condições para que a temperatura política aqueça: Figueiredo é, como vimos, um pouco precipitado, e Portas se mordesse a língua morria envenenado. Não devo ter paciência para ver aquelas duas criaturas divertindo-se na TV.