Sobre-endividados. 2016 foi o ano em que mais famílias pediram ajuda

Cerca de 30 mil famílias pediram ajuda ao gabinete de apoio da DECO. Mais 474 em relação ao ano anterior

Cerca de 30 mil famílias sobre- -endividadas pediram ajuda ao Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado (GAS) da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), em 2016. Foram mais 474 em relação ao ano anterior. Apenas três mil conseguiram ter as suas dívidas reestruturadas.

A DECO acompanhou 2715 processos e, segundo Natália Nunes, coordenadora do GAS, o crescimento económico não melhorou a situação financeira das famílias, ao contrário do que seria de esperar, verificando-se mesmo um aumento dos pedidos de ajuda.

Desde 2014 que o número de sobre-endividados tem aumentado e 2016 foi, até agora, o ano em que se registaram mais famílias a pedir ajuda.

Por outro lado, 2016 foi o ano em que o GAS abriu menos processos em relação ao número total de pedidos de ajuda, apenas 9,2%.

“Este indicador é mais um dado que mostra que a situação financeira das famílias não é a melhor. A maior parte das situações que nos chegam não apresentam viabilidade. É cada vez maior a diferença entre o número de pedidos de ajuda e aqueles a que conseguimos dar seguimento”, afirma Natália Nunes.

Precariedade

Nas causas deste endividamento está o desemprego, embora o peso tenha baixado para 26%, ou a degradação das condições de trabalho, como os salários baixos. Natália Nunes aponta “a precariedade” como um dos fatores responsáveis pelo endividamento.

Muitas pessoas só pedem ajuda numa fase de desespero face ao pagamento das dívidas que contraíram no passado, especialmente antes da crise.

A responsável pelo GAS revela ainda que as entidades credoras “têm-se mostrado cooperantes com a DECO na ajuda à reestruturação da dívida das famílias”. O rendimento médio destas famílias desceu, em média, cerca de 700 euros.

A maior parte das famílias (35%) concluíram o ensino secundário ou o 3.o ciclo. Apenas 18% possuem o ensino superior. Os pedidos chegam, em grande parte, das zonas de Lisboa e Vale do Tejo – 40% – e do Porto e Norte – 31%. O menor número de pedidos de ajuda no interior é justificado pelo “fator vergonha: muitas famílias têm medo de recorrer a este tipo de ajudas”.