A montanha-russa da corrida para os óscares

Há vários anos que não tínhamos uma edição de Óscares como esta.

Há vários anos que não tínhamos uma edição de Óscares como esta. Primeiro porque há 20 anos que não víamos um filme ser nomeado 14 vezes pela Academia norte-americana. Só Titanic conseguiu um feito que Chazelle repete com este seu musical de regresso ao passado que é La La Land. Quase a abafar um outro sucesso que de outra forma está também a fazer história: Moonlight, de Barry Jenkins, o filme que este ano pedia.

Silêncio

O aguardadíssimo (e sem grande razão aclamado por parte da crítica internacional) filme de Martin Scorsese que acompanha a história de dois jesuítas portugueses (Andrew Garfield e Adam Driver) num Japão que no século XVII queria erradicar o cristianismo, foi relegado pela Academia para o lugar que é o justo nas nomeações para os Óscares. Apenas uma nomeação, para Melhor Fotografia, aliás bem merecida por Rodrigo Prieto (O Lobo de Wall Street, Babel e O Segredo de Brokeback Mountain), num filme em que Scorsese desiludiu.

Elle

Não é a única ausência na lista dos candidatos a Melhor Filme Estrangeiro nesta edição dos Óscares, mas será das mais óbvias, sobretudo ao fim de um ano em que o realizador de Robocop (1987) voltou a cair nas boas graças da crítica. Mas para Elle, uma nomeação apenas, para Isabelle Huppert, a competir na categoria de Melhor Atriz com por exemplo Emma Stone (La La Land), Natalie Portman (Jackie Kennedy no biopic de Pablo Larraín sobre a primeira-dama norte-americana) e Meryl Streep (com Florence Foster Jenkins), que tem aqui a 20ª nomeação da sua carreira, patamar nunca antes atingido por uma atriz.

La La Land – Melodia de Amor

Depois do sucesso de Whiplash, vencedor de três Óscares, Damien Cazelle decidiu aventurar-se por um musical à boa e velha maneira americana. A Los Angeles dos sonhos como cenário perfeito para contar um clássico «boy meets girl» – o boy é o pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling), a girl uma aspirante a atriz, Mia (Emma Stone) – história de amor sem final perfeito a não deixar esquecer que afinal estamos num novo século. Venha o que vier, a aposta está ganha:logo em Veneza, Emma Stone foi Melhor Atriz, nos Globos de Ouro o filme venceu nas sete categorias para as quais estava nomeado (e nunca outro filme tinha ido tão longe). E para os Óscares são 14, coisa que só Titanic e All About Eve tinham conseguido até aqui.

Moonlight

Em quase 90 anos de Óscares, Barry Jenkins é apenas o terceiro realizador negro nomeado ao mesmo tempo nas categorias de Melhor Filme e Melhor Realização e bem ajudou a calar as críticas que vinham sendo apontadas à Academia nos últimos anos. Mas são mais que merecidas as nomeações de Moonlight, oito ao todo, que fazem dele o segundo filme mais nomeado para a 89ª edição dos Óscares, a par de O Primeiro Encontro, filme de ficção científica de Denis Villeneuve. E haja mais filmes como Moonlight, retrato despudorado dos negros na América no tempo apocalítico que vivemos. Salvem-nos os filmes, pelo menos.

Animais Noturnos

O segundo filme do desginer de moda tornado realizador Tom Ford merecia mais. Leão de Prata em Veneza, onde teve a sua estreia mundial, Animais Noturnos deu depois o justo Globo de Ouro de melhor ator secundário a Aaron Taylor-Johnson. Para os Óscares, Animais Noturnos está nomeado apenas na categoria de melhor ator secundário, de novo, mas com outro ator, Michael Shannon (Bobby Andes). Como Elle, ficou de fora dos candidatos a Melhor Filme Estrangeiro, onde com toda a justiça competem os brilhantes Toni Erdmann, de Maren Ade (Alemanha), e O Vendedor, filme com que Asghar Farhadi (Uma Separação) regressou ao Irão.