Sucedem-se nomes; escasseiam-se candidatos efectivos. O tempo urge. O tempo não espera pelo PSD. O tempo não perdoa se o PSD não oferecer a todos os lisboetas um novo tempo de esperança e de reconciliação com a cidade. Com a capital da nossa Pátria.
2.O último nome, avançado em primeira mão pelo jornal “i”, foi o de Rui Gomes da Silva. A verdade é que o nome do comentador desportivo, ex-Ministro do Governo de Pedro Santana Lopes e ex-Vice-Presidente do Benfica, nunca esteve seriamente em cima da mesa. Tratou-se apenas de uma sugestão informal de Mauro Xavier, que pretendia trazer para as suas hostes alguém com uma ligação, mais ou menos remota, a Pedro Rodrigues – ex-Presidente da JSD que desafiou a liderança da distrital de Lisboa a Miguel Pinto Luz e que é tido como o homem que liderará o PSD Lisboa em caso de ruptura do passismo.
3.Ora, Rui Gomes da Silva integra a ala mais sénior do movimento lançado por Pedro Rodrigues (antigo membro do Governo de Passos Coelho, tendo exercido funções de Chefe de Gabinete de Miguel Poiares Maduro), juntamente com Carlos Encarnação e (diz-se!) Ângelo Correia.
Portanto do ponto de vista meramente táctico, percebe-se a jogada de Mauro Xavier: apela a Rui Gomes da Silva para colaborar consigo, após já ter chamado José Eduardo Martins – ou seja, desta forma, Xavier entala Passos Coelho buscando dois elementos das suas facções opositoras.
3.1.Por outro lado, Mauro Xavier posiciona-se, desde já, como o elemento de ligação natural entre o passismo e o pós-passismo: continuará como elemento preponderante do partido caso suceda a Passos Coelho uma figura próxima de José Eduardo Martins ou uma figura próxima de Rui Gomes da Silva (que até pode ser Pedro Santana Lopes!) e Pedro Rodrigues.
Já para não falar que Mauro Xavier é o patrão profissional (que não apenas político) de Pedro Duarte na Microsoft Portugal. Conclusão: Mauro Xavier faz o pleno – está com Passos Coelho, não assumindo a ruptura frontal; mas, ao mesmo tempo, tem consigo José Eduardo Martins, a ala santanista mais Pedro Duarte (o que lhe permite ligações fortes com Miguel Relvas, Luís Montenegro, Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes).
3.2.Posto isto, pergunta-se: Rui Gomes da Silva poderia, neste momento, protagonizar uma candidatura vencedora a Lisboa? A resposta é negativa. Daí que nem sequer tinha sido efectivamente equacionada nem por Passos Coelho, nem Por Rui Gomes da Silva. E isto por três razões essenciais:
1)Rui Gomes da Silva tem concentrado a sua intervenção pública no futebol, defendendo com mestria e paixão o Benfica – mas criticando veementemente o Sporting. Ora, o Sporting também é um clube relevante da cidade de Lisboa, sendo os seus adeptos oriundos sobretudo desta cidade.
Logo, Rui Gomes da Silva alienaria de imediato uma parte importante do eleitorado. O próprio Rui Gomes da Silva afirmou, há poucos dias, que separa totalmente a sua actividade política da sua actividade de comentador e dirigente desportivo – quando está na política, abstém-se de intervir no futebol; quando está no futebol abstém-se de intervir na política;
2) Rui Gomes da Silva seria encarado como o santanismo sem Santana Lopes. O que, em princípio, não seria relevante – contudo, neste caso, é uma limitação forte. Porquê? Porque Pedro Santana Lopes seria o candidato natural (e mais ambicioso) do PSD à Câmara Municipal de Lisboa – e durante longos meses alimentou esse cenário.
Logo, a ida do n.º 2 de Santana Lopes pareceria uma forma de Pedro Santana Lopes dizer presente, não estando e escondendo-se na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Injustamente, seria esta a leitura da opinião pública (o que seria aproveitado à exaustão por Fernando Medina, o discípulo de António Costa).
Quem ficaria mal neste cenário? Todos – o PSD, Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes e Rui Gomes da Silva. Felizmente, porque todos são homens sensatos e inteligentes, perceberam que esta solução é, neste momento, inviável.
Um dado curioso: a equipa de trabalho de José Eduardo Martins, cuja função é apresentar um programa eleitoral do PSD para Lisboa, é composto, na sua maioria, por colaboradores de Pedro Santana Lopes, incluindo até o seu Chefe de Gabinete na Santa Casa;
3) Rui Gomes da Silva já é candidato. Mas não a Lisboa – é candidato à Presidência do Glorioso, do Sport Lisboa e Benfica. E o próprio já o assumiu implicitamente no livro que acabou de editar com o título “Sou Benfiquista e isso me envaidece”. No capítulo final, Rui Gomes da Silva escreve que defenderá o Benfica com convicção e em qualquer posição ou cargo, acrescentando “para bom entendedor…”.
Ou seja, o bom entendedor, conclui naturalmente que Rui Gomes da Silva defenderá o Benfica sempre com convicção quer como comentador (hoje), quer como Presidente do Benfica (amanhã). Mais adiante, Rui Gomes da Silva propõe os traços gerais do seu projecto para o Glorioso, acrescentando que os defenderá e bater-se-á por ele no momento adequado…ou seja, quando Luís Filipe Vieira sair – ou quando o projecto de Luís Filipe Vieira se mostrar esgotado.
Se a crise de resultados do Benfica se prolongar (cruzes credo!), se o novo ciclo de liderança do Benfica no futebol português não se consolidar – Rui Gomes da Silva enfrentará Luís Filipe Vieira no próximo acto eleitoral. E já trabalha para esse fim: basta acompanhar as declarações de Rui Gomes da Silva no “Dia Seguinte” (o último programa é muito revelador) ou no jornal “A Bola”.
Conclusão: não, Rui Gomes da Silva não é candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Passos Coelho não quer – Rui Gomes da Silva não quer. Quer, isso sim, a liderança do Sport Lisboa e Benfica. E palpita-nos que Luís Filipe Vieira terá um adversário difícil no próximo acto eleitoral…