Perito propõe reforço de psicólogos nas polícias

Situação familiar e económica é fator de risco. Associação de guardas militares contesta resultados

O estudo liderado pelo psiquiatra Jorge Costa Santos e apresentado esta semana pelo Ministério da Administração Interna concluiu que entre os agentes de segurança que cometeram suicídio nos últimos anos verificou-se que havia um maior número de pessoas divorciadas e maior incidência de processos disciplinares e judiciais. Estes agentes tinham também também mais problemas financeiros em comparação com os colegas, como dívidas e penhoras, e detetou-se que havia um historial de maior absentismo por doença e maior frequência de perturbações mentais conhecidas. Assim, o contexto individual dos agentes parecia ser mais determinante do que as condições laborais.

O estudo, que pela primeira vez investigou retrospetivamente os antecedentes pessoais e profissionais de 89 elementos da GNR e da PSP que se suicidaram entre 1 de janeiro de 2007 e 31 de dezembro de 2015, recomendou uma seleção mais criteriosa e reavaliação dos agentes a cada dez anos para despistar situações de burn-out, assim como a sensibilização dos agentes para os problemas de saúde mental e sinais e sintomas de sofrimento psicológico. Assegurar resposta imediata aos pedidos de ajuda, com maior articulação entre serviços médicos, psicológicos e psiquiátricos, e reforços dos psicólogos nas polícias foram outras recomendações. Aumentar o controlo aleatório de álcool e substâncias psicotrópicas é uma outra proposta, assim como tornar rotineiro o estudo retrospetivo de casos de suicídio por equipas treinadas.

A Associação dos Profissionais da Guarda concorda com o alargamento da ajuda, mas contesta que as condições de trabalho não contribuam para o flagelo. “Os guardas só no final do ano passado tiveram em lei os horários de serviço. Trabalharam muitos anos 24 horas, longe de casa, muitos iam a casa de semana a semana (…). Tudo isto levava a questões pessoais, pois não estavam com os filhos, com as famílias. Por isso é que o índice de divórcio nas forças de segurança, neste caso na GNR, sempre foi elevado”, disse César Nogueira, citado pela agência Lusa.

De acordo com o estudo, os agentes que cometeram suicídio tinham uma média de idade de 38 anos no caso da GNR e de 43 anos na PSP. Tinham tido consultas médicas no ano anterior e usaram armas de serviço.

A secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna, Isabel Oneto, comprometeu-se a atualizar os planos de prevenção de suicídio nas duas forças de segurança. M. F. R.