Os assassinos entre nós

Alguém devia explicar a Trump que os interesses da Rússia e dos EUA são opostos. Mas este, provavelmente, teria uma resposta idiota para dar, como tem sempre.

Quando não há tema importante para escrever, ou quando este já foi tratado por alguém neste jornal (caso, hoje, da venda do Novo Banco), a pergunta que o cronista sem tema deve fazer é “O que disse Trump hoje?” Nunca falha.

Hoje, 5 de fevereiro de 2017, vai passar na Fox News, canal de televisão americano de direita, a primeira parte de uma entrevista com Trump, alguns extratos da qual já foram divulgados. Trump, a certa altura, é confrontado pelo jornalista com o passado de Putin como agente da KGB “Mas é um assassino”. Respondeu prontamente Trump: “Há muitos assassinos. O que é que acha? Que o nosso país é inocente?”

Em 1918, o importante sociólogo Max Weber definiu o Estado como tendo “O monopólio da violência legítima.” Se for para fins legítimos, entende-se, como assegurar que a lei e a ordem são asseguradas numa sociedade. Pior é quando a violência é usada para matar jornalistas de investigação – Anna Politovskaia -, para envenenar e matar, com um elemento radioativo difícil de obter (Polónio 210) um desertor dos serviços secretos, Alexander Litvinenko, ou para condenar um opositor político a dez anos de prisão na Sibéria – Mickahil Khodorkovsky.

E é aqui que se devia traçar o limite. A Rússia dos nossos dias, que Trump quer como aliada, é um estado profundamente corrupto, que anexa pedaços do território de países vizinhos – Ucrânia, Geórgia – e que usa o seu poder interno para se desfazer de quem é incómodo. Comprovadamente, há fraude eleitoral, pelo que se trata de tudo menos de uma democracia.

Além disso, há a inevitável geopolítica. A Rússia, apesar da perda da Ucrânia, controla a maior parte das terras férteis do planeta, e estende-se por onze fusos horários. Não tem é bons acessos ao mar. É, por definição, a maior potência terrestre do planeta.

Já os Estados Unidos, que apesar de terem muitos solos aráveis não são tão grandes como a Rússia, ocupando “apenas” quatro fusos horários, têm em contrapartida excelentes acessos quer ao Atlântico quer ao Pacífico. São, também por definição, a maior potência marítima do planeta.

Alguém devia explicar a Trump que os interesses da Rússia e dos EUA são opostos. Mas este, provavelmente, teria uma resposta idiota para dar, como tem sempre.