Num relatório divulgado hoje, a OCDE, organização de estudos económicos que agrupa os países mais industrializados do mundo, afirmou que a taxa de desemprego em Portugal se manterá acima dos 10% em 2017.
É uma previsão algo arriscada: segundo o INE, o desemprego estava em 10,5% em novembro (números definitivos), e terá baixado para 10,2% em dezembro (números provisórios). Portanto, não está muito longe de furar a barreira psicológica dos 10%.
Não vi televisão, mas do que li na imprensa, Mário Centeno pareceu-me irritado com essa conclusão do relatório. Centeno, recorde-se, tirou o doutoramento em Harvard (talvez a melhor escola de economia e de gestão do mundo) e é um especialista nos mercados de trabalho. Se o PS tivesse maioria absoluta, e se Centeno tivesse carta branca para agir, acabaria com os falsos recibos verdes, mas facilitaria os despedimentos. É que de momento existem, em Portugal, não um, mas dois mercados de trabalho: num, os de contratos a termo incerto, os trabalhadores estão muito bem protegidos; noutro, o dos falsos recibos verdes, os empregados não têm qualquer regalia. Centeno faria que em Portugal existisse apenas um mercado de trabalho, mas os partidos mais pequenos da geringonça nunca aprovariam a sua receita.
Voltando aos números: 10,5% de taxa de desemprego, depois 10,2%, melhor do que há um, dois, ou três anos. Como a distância é agora muito pequena, e como a economia continua a crescer, é possível que Centeno tenha razão e que a OCDE esteja errada. Centeno fez um desafio arriscado: se o governo estiver enganado e no fim de 2017 a taxa de desemprego ainda estiver acima de dois dígitos, o executivo terá de pedir desculpas ao secretário-geral da OCDE, Angel Gurría. Subentende-se que o executivo espera que, se tiver razão, seja a OCDE a pedir-lhe desculpas. Coragem e saber técnico: cada dia que passa, Centeno parece um melhor ministro das Finanças.