É um dos rostos da contestação e tanto dispara pelas alterações como pela continuidade do estado das coisas. Isto é: aceita com muita dificuldade outras opiniões e formas de pensar diferentes. Se alguém está contra a alteração de uma lei qualquer, já se sabe que a deputada nascida no Rio de Janeiro em 1976, quando o seu pai era refugiado do 25 de abril, vai aparecer de arco e flecha para dizimar os opositores.
Está-lhe no sangue combater tudo o que é diferente de si e, por isso, usa uma linguagem desbragada contra os seus opositores. São muitas as polémicas em que se envolveu e até já defendeu o fecho de jornais porque não gostou de algum assunto retratado. Digamos que é um João Galamba no feminino. A sua garra também lhe tem trazido muitos inimigos, mas sempre achei piada ao seu lado pespineta, apesar de estar, na maioria dos casos, no lado oposto ao seu. Por uma razão muito simples: a diversidade de opiniões é que faz a riqueza da vida. Com um ar de animal feroz, Isabel Moreira ganhou um estatuto único na Parlamento e talvez por isso seja capaz de dizer o que os membros do Governo pensam mas não podem dizer. Basta pensar no caso de Angola para entender a liberdade de que goza.
Esta semana, pela primeira vez, a filha do antigo ministro de Salazar usou de alguma contenção num assunto tão polémico como a eutanásia ou a morte assistida como alguns gostam de dizer. Explicou, para meu espanto, que quem defende a legalização da medida não é mais democrático – não sei se foi bem esta palavra que usou mas foi seguramente um sinónimo – do que quem é contra, que a razão ou falta dela não é exclusivo de uma das partes. Escolhi Isabel Moreira como figura porque penso que representa bem o que está em causa. De um lado estão aqueles que querem acabar com o sofrimento de uma pessoa que não tem qualquer hipótese de recuperar e do outro os que se opõem totalmente ao suicídio assistido, embora poucos tenham certezas absolutas quando os casos passam a ser pessoais. A ironia da vida é bem complexa e soube de uma figura que muito se opunha à legalização da eutanásia e que, quando teve um grave acidente, esteve a dias de a família pedir para se lhe desligar a máquina, de forma a evitar que ficasse meses ou anos num estado vegetativo. Não foi necessário…
Defendo a eutanásia, mas percebo que haja quem pense o contrário e se oponha terminantemente à legalização da mesma. Eu votarei pelo fim ao sofrimento sem fim à vista.