As mochilas dos alunos com quatro ou cinco quilos de peso e 12 manuais têm os dias contados. Os partidos com assento parlamentar vão apresentar na Assembleia da República recomendações e projetos-lei para evitar que os alunos do básico e secundário continuem a carregar todos os dias nas mochilas os manuais escolares, os livros de fichas, os cadernos, os estojos e o equipamento para as aulas de Educação Física.
O mote chegou com a petição pública contra “o peso excessivo das mochilas em Portugal” que, em menos de um mês, até ontem, à hora de fecho desta edição, tinha reunido mais de 22 mil assinaturas. Está garantida assim a discussão obrigatória do assunto em plenário e a possibilidade de os peticionários apresentarem uma solução para o peso das mochilas. Será nessa altura que os partidos que dizem estar “preocupados” com o assunto vão avançar com soluções para o problema, sendo esta uma das queixas “mais recorrentes dos pais”.
Manuais digitais em ascensão
Um dos caminhos que está a ganhar força é a transição do manual escolar em papel para o formato digital. Além de ser defendido pelas escolas, pais e partidos ouvidos pelo i, esta é também uma das medidas previstas no programa de governo.
No documento lê-se que o executivo pretende “conceber e implementar uma estratégia de recursos digitais educativos que promovam a criação, disseminação e utilização de conteúdos digitais no processo de aprendizagem, assente em comunidades de prática com autores, produtores, professores, alunos e pais”. A aposta do digital na educação é, aliás, uma das bandeiras dos governos socialistas. Foi durante o governo de José Sócrates que o Ministério da Educação distribuiu computadores aos alunos do 1.o, 2.o e 3.o ciclos, os Magalhães e os E.escolinhas.
Ao i, a deputada socialista Odete João diz que o partido “vai ponderar as soluções tendo em conta o programa de governo”, assumindo que “temos de caminhar no sentido do digital”, até porque um tablet “é muito mais leve” e suporta “informação muito mais variada”. No entanto, sublinha Odete João, terá de continuar a “existir um equilíbrio entre o digital e o papel” de forma a “garantir o acesso do aluno ao manual escolar”.
Até porque, acrescenta a deputada do CDS Ana Rita Bessa, “nem todas as famílias podem fazer o investimento no tablet”. Por isso, os centristas, que dizem ser “profundamente crentes na conversão para o digital”, entendem que cabe ao governo legislar nesse sentido. O que não impede que o CDS venha a apresentar recomendações ao Ministério da Educação, lembrando que “é também necessário que os professores saibam trabalhar com os suportes digitais”.
Também o PSD – que já apresentou recomendações ao governo para a aposta no digital – defende que se “deve olhar para essa solução com mais atenção”. O deputado Amadeu Albergaria diz que o partido vai aproveitar a discussão da petição em plenário para apresentar “soluções legislativas e ações de sensibilização” para evitar o peso excessivo das mochilas.
Esta posição também é partilhada pelos comunistas, que dizem estar a discutir a solução a nível interno, e pelo Bloco de Esquerda, que prevê que “mais tarde ou cedo vamos ter de trabalhar na aposta do digital”, como refere ao i a deputada Joana Mortágua, que salienta que esta transição terá de ser feita de forma “gradual e com calma para que os alunos se adaptem”.
Também os pais e as escolas defendem que esta seria uma “boa solução” para os alunos, não deixando de avisar que há “muitas escolas que não estão preparadas” para essa transição. “A internet é lenta e os computadores não são renovados desde 2008”, refere o presidente da Associação Nacional dos Diretores Escolares (ANDE), Manuel Pereira.
“Não tenho nenhuma dúvida de que as crianças se sentem mais estimuladas com um tablet. É tempo de encontrar caminhos e soluções inovadoras no ensino”, diz ao i Jorge Ascensão, presidente da Confederação de Pais (Confap), signatária da petição.
cacifos podem ser alternativa
Além da aposta nos manuais digitais, outra das soluções apontadas pelos diretores e pelos pais passa por dotar todas as escolas de cacifos. Desta forma, os alunos deixariam na escola os manuais e transportavam para casa apenas os cadernos e os livros de fichas necessários para fazer os trabalhos de casa. “Temos consciência da brutalidade do peso das mochilas, principalmente nos alunos do 5.o e 6.o ano”, refere ao i o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. “São poucas as escolas com cacifos, só têm as que foram requalificadas pela Parque Escolar. A maioria não tem”, sublinha Filinto Lima. Para contornar o problema, as escolas têm vindo a “manter o mais possível as turmas nas mesmas salas”, explica Manuel Pereira. Desta forma, os alunos conseguem deixar o material na sala de aula.
Editoras preparadas para o digital As editoras dizem estar preparadas para a transição do livro em papel para o digital. Lembrando que há já “muitos professores que trabalham com as aulas e os quadros interativos”, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) diz que “essa transição já começou”.
E esta tem sido uma das apostas da Leya e da Porto Editora, que têm hoje “todos os manuais de todos os anos de escolaridade disponíveis, para alunos e professores, tanto em formato digital como em papel”, diz ao i fonte oficial.
Além disso, sublinha a mesma fonte, este ano letivo foram lançados os manuais híbridos. Trata-se de livros que podem ser consultados pelos alunos através do telemóvel.
Quanto ao peso das mochilas, a APEL diz que as editoras têm vindo a “contribuir para aliviar” a carga dos alunos, lembrando que têm vindo a dividir os manuais em dois ou três volumes e a utilizar papéis mais leves.