O convite endereçado por Theresa May ao novo presidente dos EUA, com vista à visita de de Donald Trump ao Reino Unido, formalizado aquando da presença da primeira-ministra britânica em Washington, no final do mês passado, continua a enfrentar forte oposição junto dos britânicos. A petição criada para retirar ao encontro o seu estatuto de visita “de Estado”- passando para uma simples visita oficial – já conta com mais de 1,8 milhões de assinaturas e vai ser inclusivamente discutida no parlamento britânico dentro de duas semanas.
Foi precisamente em Westminster que surgiu o mais recente eixo de oposição à presença de Trump em território britânico mas, ao contrário do que se possa pensar, não partiu de qualquer iniciativa dos deputados que já assumiram, publicamente, a sua discordância em relação à visita do presidente norte-americano. Partiu, isso sim, de uma intervenção de John Bercow, o carismático presidente da Câmara dos Comuns do parlamento, na segunda-feira, que, aproveitando um ponto de ordem na sessão plenária, revelou o seu posicionamento sobre a eventualidade de Trump discursar perante os Comuns e os Lordes, no âmbito da presença em Inglaterra.
“[Na Câmara dos Comuns] respeitamos o nosso relacionamento com os Estados Unidos. Ainda assim, e que no que a este lugar diz respeito, sinto verdadeiramente que a nossa oposição ao racismo e ao sexismo, e o nosso apoio à igualdade de todos perante a lei e perante um poder judicial independente, são questões demasiado importantes na Câmara dos Comuns”, referiu Becrow, citado pela BBC, para justificar a sua oposição à presença do chefe de Estado norte-americano em Westminster que, defendeu, é uma “honra” que tem de ser “conquistada” e não um “direito automático”.
O presidente da câmara baixa do órgão parlamentar britânico reconheceu, ainda assim, que o cargo que ocupa não lhe permite decidir sobre quem visita ou deixa de visitar o Reino Unido, mas lembrou que para um líder estrangeiro poder discursar na assembleia, é necessária a sua assinatura e a do presidente da Câmara dos Lordes. “Não gostaria de ter de enviar esse convite ao presidente Trump”, confessou, gerando uma forte onda de aplausos, nomeadamente nas bancadas onde se sentam os deputados trabalhistas e do Partido Nacionalista Escocês.
A tomada de posição de posição de Bercow surge na sequência de uma semana polémica nos Estados Unidos, fruto da ordem executiva de Donald Trump que decretou a suspensão do acolhimento de refugiados e da entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana no país, mas o Speaker da Câmara dos Representantes garante que não foi esse assunto que o motivou a tornar pública a sua oposição à visita do líder norte-americano ao parlamento: “Antes da imposição da proibição migratória, opunha-me veementemente a um discurso do presidente Trump em Westminster Hall, [e] depois da imposição da proibição migratória, oponho-me de forma ainda mais veemente a um discurso do presidente Trump em Westminster Hall”
As palavras de Bercow não foram inéditas pelo seu conteúdo, mas porque saíram da boca de alguém que ocupa um cargo de natureza apolítica, pelo que a sua intervenção junto dos deputados causou descontentamento junto do executivo. Segundo uma fonte do governo, citada pelo “The Guardian”, a intervenção do presidente dos Comuns foi “fortemente política” e “ultrapassou os limites” impostos à posição de Speaker. A mesma fonte garantiu que a visita se vai realizar, mas admitiu que a presença de Trump em Westminster não deverá acontecer.