Hepatite C. Cinco mil doentes curados em dois anos

Faz dois anos que o Estado comparticipou os primeiros medicamentos inovadores que garantem a cura da doença

A 4 de fevereiro de 2015, José Carlos Saldanha interrompeu uma audição do então ministro Paulo Macedo no parlamento e pediu que o governante não o deixasse morrer. No dia seguinte, era anunciado o acordo entre o Estado e a farmacêutica Gilead para a comparticipação dos dois primeiros medicamentos inovadores que garantiam uma cura acima dos 90% – algo inédito na história de uma doente infeciosa. Até aqui, o desfecho era certo: quando a hepatite C evoluía, os doentes desenvolviam complicações como cirrose. O transplante de fígado, com reduzida esperança de vida, era para muitos a última hipótese. Outros morriam à espera.

Passam dois anos e o Infarmed divulgou um balanço do que se passou desde então. Ao todo, 5099 doentes com hepatite C ficaram curados. Foram iniciados tratamentos de quase dez mil doentes e excluindo os que ainda se encontram em tratamento, a taxa de cura é de 96,5%.

"Numa altura em que se assinalam os dois anos do acordo para o tratamento, o Infarmed mantém o plano terapêutico de acesso universal, mas agora com um total de quatro medicamentos, na sequência da aprovação recente da comparticipação de mais duas novas substâncias", informou hoje o regulador do medicamento.

O Ministério da Saúde assegura que tem mantido as melhores condições contratuais, de forma a garantir a sustentabilidade do SNS e a tratar todos os doentes que necessitam. Recorde-se que o valor que o Estado paga por cada tratamento não é público.

Uma investigação do SOL, publicada em dezembro, revelou que antes do acordo com a Gilead em 2015 havia hospitais a comprar a nova medicação ao preço de 97 mil euros por doente, 103 mil euros já com IVA incluído – 581 euros por comprimido. O Centro Hospitalar Lisboa Central foi a primeira unidade a declarar a compra do medicamento.

Hoje o preço oficial do mesmo tratamento é de 41 mil euros. Mas sobre este valor, os hospitais têm um desconto que será superior a 50% – o preço final não é revelado pelo Estado, que invoca uma cláusula de confidencialidade contratual.

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