Hoje, 8 de fevereiro de 2017, liguei o televisor para ver o início do Telejornal da RTP 1, onde passaram excertos de uma entrevista ao ex-ministro da economia Álvaro Santos Pereira. Santos Pereira recordou, com azedume, a demissão “irrevogável” de Paulo Portas, no meio do programa de ajustamento imposto pela troia, quando o país começava a dar os primeiros passos de recuperação. Houve um jornalista, Pedro Santos Guerreiro, que quando essa crise se deu contou na televisão que, após Portas ter dito que se demitia, não foram só as taxas de juro que dispararam e a bolsa que caiu a pique. Foi também a redação do jornal que foi inundada de telefonemas do estrangeiro, de bancos, fundos de investimento, e agências de rating, que perguntavam todos, “mas vocês perderam a cabeça?” Santos Guerreiro, visivelmente aborrecido, desabafava: “Não me interessa saber se Paulo Portas tem carreira política a partir daqui; sinceramente, é-me indiferente”.
Sabe-se como a crise foi resolvida: Paulo Portas foi promovido a vice-primeiro-ministro, o CDS ganhou o ministério da economia, e o governo prosseguiu o seu trabalho. Mas há quem não tenha esquecido. Álvaro Santos Pereira fez-se notar pela ausência na tomada de posse dos novos ministros. E, na entrevista de hoje à RTP, três anos volvidos, sem alguma vez mencionar o nome de Paulo Portas, não deixou de dizer que quem provoca uma crise política e financeira gravíssima, quando o país está a dar os primeiros sinais de recuperação de uma austeridade brutal, para ganhar um pouco mais de poder, devia ser julgado por Traição à Pátria.
É muito forte, e revela uma raiva que ainda não foi levada embora pelo tempo. Por mim, já me contento em não ver Paulo Portas na televisão a tomar decisões de poder. Hoje, ele deve estar mais preocupado com ganhar dinheiro.