Campeonato. Só nós dois é que sabemos, só nós dois e mais ninguém

Sporting ganhou fora, em Moreira de Cónegos (3-2), recuperando de duas desvantagens, mas continua a revelar tremenda debilidade defensiva

Nada de novo na frente, e aqui nem é ocidental como no romance de Erich Maria Remarque. É apenas a frente. A frente do campeonato, o topo da classificação, pouco importa como lhe queiram chamar. Sinal claro dado pelo FC-Porto na visita a Guimarães, batendo o Vitória de Pedro Martins pelo mesmíssimo resultado aí conseguido pelo Benfica (2-0) e afirmando-se como feroz perseguidor da águia que já esteve bem mais altaneira do que agora.

Fica a sensação de que, como aconteceu na época passada, a corrida agora se desenrola como a ponta final de uma maratona: quem conseguir dar um “esticão”, ganhando um pouco de fôlego e uma ligeira distância para o adversário, terá a meta escancarada à sua frente. Na última época, o Benfica de Rui Vitória foi capaz de chegar ao primeiro lugar (na vitória em Alvalade, por 1-0) e não voltar a perder pontos até final, o que obliterou por completo a esperança do Sporting de Jorge Jesus. Este ano, os contendores não se repetem. Nuno Espírito Santo conseguiu tirar o leão da equação e fê-lo, definitivamente, com a vitória nas Antas (2-1) na jornada anterior. O seu discurso mantém-se, teimoso, na ideia da pressão sobre o líder. Na próxima jornada, entra em campo primeiro, recebendo o Tondela, na sexta-feira, e essa pressão pode ser terrível para um Benfica que se desloca a Braga. Para já, nestas últimas semanas, os encarnados têm recuperado alguma da sua segurança e tranquilidade graças às vitórias caseiras sobre Nacional e Arouca. Mas estarão já numa fase de recuperação dos resultados exibições pobrezinhos, benza-os Deus, perante Boavista, Moreirense e Vitória de Setúbal, capaz de lhes garantir posição de força nestes dias em que dois enormes escolhos (Dortmund e Braga) se erguem na sua frente. Seja como for, e tal como cantava Tony de Matos, são só eles dois e mais ninguém…

Vantagem de quem? Esta semana é a vez de o Benfica se ver envolvido na batalha europeia da Liga dos Campeões, e sabe-se como muitas vezes elas provocam desgastes tremendos. Deitemos uma olhadela para as cenas dos próximos capítulos. Benfica a receber o Borussia Dortmund, a viajar até Braga, tendo em seguida Chaves em casa e Feirense (fora) antes da deslocação à Alemanha – já agora, também a 1ª mão das meias-finais da Taça de Portugal. OFCPorto, no seu ciclo europeu, recebe a Juventus, vai ao Bessa, tem a visita do Nacional e viaja até Turim depois de Arouca. Convenhamos que, em termos nacionais, não há nada que assuste por aí além. É bem pior o calendários dos benfiquistas até à jornada 27, aquela em que haverá clássico na Luz, até porque mete de permeio uma sempre incómoda deslocação a Paços de Ferreira. Em que ficamos? Cada um construirá à sua vontade os cenários que lhe apetecer. Embora dificilmente não se estabeleça o jogo entre os dois primeiros do campeonato como um momento decisivo do mesmo. Ainda falta um bocado, afinal é só no início de Abril, mas certo é que entre os dois e mais ninguém se escreverá a história do novo campeão, que até pode ser o velho…

Ao longe! Ao longe, muito longe, vem o leão, que tem andado nesta (mais uma) fase má a beneficiar dos tiros nos pés dados a torto e a direito pelos dois minhotos – Braga e Vitória de Guimarães – que o perseguem. A ideia base da filosofia leonina parece ser – guerras e guerras, sempre mais guerras. Guerras internas, por via das eleições que estão à porta, guerras externas que agora até fazem com que Jorge Jesus vá para as conferências de imprensa comentar os comentários de comentadores, se é que isto faz algum sentido.
Fragilidades, tal como as que se revelam defensivamente a cada jogo. O Sporting sofre golos verdadeiramente aos pontapés e, dessa forma, torna-se complicado somar resultados positivos – há sete jornadas consecutivas que não aguenta 90 minutos sem impedir os adversários de marcar. Ontem mais dois que obrigaram a uma vitória de aflitos, bem ao jeito de quem não gosta de ser feliz. É um Sporting que vive em convulsão, não há dúvidas. Ainda assim obteve uma vitória com o seu quê de agradável – porque se segue à dolorosa derrota que deixou os leões fora do caminho do título; porque valeu duas recuperações (o Moreirense esteve a ganhar por 1-0 e por 2-1); porque serviu para segurar o lugar que dá acesso ao play-off da Liga dos Campeões. e porque foi… uma vitória fora. Algo que não acontecia desde a visita ao Restelo, lá pelos idos do Natal.