Tanto quanto era dado saber este domingo, o primeiro movimento no xadrez de provocações norte-coreanas da era Trump não vai merecer ainda a resposta violenta que o novo presidente norte-americano prometeu no trilho de campanha. A jogada, em todo o caso, foi previsível e de pouco risco. Pyongyang disparou nas primeiras horas de domingo um míssil de alcance intermédio contra as águas do Japão, parte teste balístico, parte ameaça e parte exercício para a nova administração americana, que afirma que não optará pela “paciência estratégica” de Barack Obama e pressionará o regime até que abandone o seu programa nuclear e de desenvolvimento de armas capazes de atingir os Estados Unidos.
O míssil, porém, um Musudan que pode chegar aos 4 mil quilómetros de distância, não traz nada de novo ao arsenal norte-coreano e não é um gesto incomum para dias de encontros entre os líderes dos Estados Unidos e Japão, como este fim de semana em que Donald Trump recebeu Shinzo Abe. Daí que, pelo menos por enquanto, a nova administração dos EUA pareça preferir cautela a uma resposta desmesurada, não se distanciando da política americana dos últimos oito anos.
Aliás, para um candidato que prometeu jogar muito duro com Pyongyang e até deixou no ar a ideia de abrir portas a armas nucleares para a Coreia do Sul e Japão, Donald Trump respondeu de uma forma surpreendentemente amena – e breve. “Só quero que toda a gente compreenda e saiba plenamente que os Estados Unidos da América estão a cem por cento com o Japão, o nosso grande aliado”, lançou Trump numa conferência de imprensa conjunta com Shinzo Abe em que os líderes responderam à provocação coreana.
E mais não disse. Abe alongou-se mais um pouco, mas a conferência não durou mais do que três minutos e não houve direito a perguntas dos jornalistas. “O presidente Trump e eu partilhamos por completo a perspetiva de que teremos de incentivar mais cooperação entre os dois países. E vamos também reforçar ainda mais a nossa aliança”, disse o líder japonês.
Kim Jong-un não conseguiu provocar Trump, ele próprio um provocador. A Reuters escreve que na Casa Branca já se antevia um gesto norte-coreano de agressão há muito e que a linha de ação pode não ser tanto a de pressionar Pyongyang em si, mas sim o seu principal patrocinador, Pequim, com quem a nova administração americana está disposta a comprar novos desacordos – o próprio governo chinês tem vindo a adotar posturas mais severas contra a liderança norte-coreana que, contudo, prefere preservar no poder, por risco de que o seu colapso fomente uma guerra e uma crise internacional junto à sua fronteira.
A NATO comentou este domingo o lançamento do míssil de alcance intermédio, que viola as resoluções das Nações Unidas construídas para restringir o desenvolvimento de tecnologia nuclear e balística do regime.
Novos embates Adiou-se um confronto que muitos dizem ser inevitável. A Coreia do Norte testou só no último ano oito mísseis semelhantes ao que disparou na madrugada deste domingo, sinalizando que, apesar das duras sanções económicas impostas ao regime, o seu programa balístico progride.
O mesmo acontece com o seu programa nuclear, o grande espinho no pé da comunidade internacional, que a Coreia do Norte, em todo o caso, considera uma ferramenta vital para a sobrevivência do seu sistema político – se Saddam Hussein ou Muammar Khadafi tivessem armas nucleares, argumenta-se dentro do regime, não teriam sofrido invasões. A rota de colisão mantém-se e pode ser apenas uma questão de tempo até o novo governo americano ser chamado a cumprir as promessas de campanha.
Pyongyang testou duas armas nucleares só no último ano e em breve pode experimentar um novo engenho._A acreditar nas palavras do regime, contudo, a primeira linha de confronto pode desenhar-se no momento do teste daquele que pode ser o primeiro míssil intercontinental desenvolvido na Coreia do Norte. Kim Jong-un prometeu-o no discurso de ano novo e os meios de comunicação do Estado indicam que o lançamento de um engenho deste tipo pode estar para breve, embora ninguém o consiga confirmar.
Se os engenhos de médio alcance são dor de cabeça principalmente para Japão e Coreia do Sul, na linha de fogo mas protegidos por sistemas antimíssil, um engenho intercontinental poderia atingir bases americanas no Pacífico ou até a costa oeste dos EUA. Reagindo ao discurso de Kim, o conselheiro da Casa Branca para a segurança nacional prometeu que, a ser testado esse tipo de míssil, a resposta americana seria “avassaladora”.