O antigo número dois da Polícia Nacional de Espanha, Eugenio Pinto, confessou por escrito ao juiz que faz a instrução do caso Pujol [antigo presidente do governo autónomo da Catalunha], José De La Mata, que durante a sua permanência à frente da polícia utilizou os serviços de dois detetives da agência Método 3, para produzir relatórios com acusações contra independentistas catalães e o líder do Podemos.
O antigo responsável da polícia escreveu ao juiz que «segundo as informações que disponho estes detetives continuam a colaborar com o CNP [Corpo Nacional da Polícia]». O diário espanhol Público garante que os dois detetives em questão, Julían Pernáñez e António Tamarit foram utilizados para elaborar um dossier fantasma sobre Pablo Iglesias. O documento foi divulgado como uma investigação das autoridades policiais espanholas, ficou conhecido na comunicação social como PISA (Pablo Iglesias Sociedade Anónima) e pretenderia documentar que o Podemos era financiado pelo Irão.
A suposta investigação foi amplamente reproduzida pela comunicação social espanhola antes das eleições como uma investigação da Unidade de Delinquência Económica e Fiscal, que fazia parte de um processo judicial. A 14 de janeiro de 2014, o Público revelou que o dossier anti-Pablo Iglesias não era uma investigação policial, não havia nenhum processo judicial, nem sequer uma denúncia concreta. Poucos meses depois, descobriu-se que o suposto dossier não passava de um conjunto de recortes de notícias de jornal e de documentos já publicados e outros que eram de acesso público dados pelo próprio líder do Podemos.
A única base real é que Pablo Iglesias recebia 700 euros brutos para produzir, dirigir e apresentar cada programa do “Forte Apache” que passava numa estação internacional de cabo da televisão iraniana, em língua espanhola. Iglesias recebeu, por este trabalho, 31 000 euros em três anos, declarados às finanças espanholas, bastante longe dos «milhões de dólares que o governo de Teerão deu ao Podemos», que constavam do suposto informe PISA. Para chegarem a este número, os autores do documento argumentavam que o facto de uma produtora vender o programa de debates ‘Forte Apache’ à cadeia Hispan TV, iraniana, significava um apoio do governo de Teerão ao Podemos. O salto de 31 mil euros para muitos milhões de dólares era conseguido imputando todas as despesas de funcionamento da Hispan TV como se fossem um apoio ao partido de Pablo Iglesias.
O dossier PISA não foi o único produzido pelos detetives contratados e pagos por fundos governamentais. Em 2016, segundo noticia o Público, esses mesmos detetives viajaram para a Venezuela e Miami e reuniram com a oposição venezuelana, com a anuência da DEA dos EUA, para arranjarem um dossier sobre os supostos financiamentos venezuelanos ao Podemos. «Segundo revelou o Público, todos os confidentes [que avalizavam que tinham existido estas transferências] estavam protegidos pelo governo dos EUA – dois deles estavam os papéis do Panamá por esconderem a sua fortuna em paraísos fiscais – porque ‘queriam negociar com Espanha uma autorização de residência ou a nacionalidade em troca das acusações que fariam sobre os membros do Podemos’, explicou uma fonte policial que participou nessa operação». Foi dessa operação que saiu um dossier em que se acusava Pablo Iglesias de ter recebido 200 000 euros do governo da Venezuela, posteriormente publicadas nos jornais.