No passado dia 9, na página de Facebook de Al Jarreau, dava-se conta de que o músico estava a recuperar e que, inclusive, o seu filho, Ryan, tinha apanhado o pai a cantar “Moonlighting” a uma das enfermeiras do hospital em Los Angeles, onde se encontrava internado por fadiga. Aliás, esta tinha sido a razão para o cancelamento das restantes datas da sua tournée e o anúncio do afastamento dos palcos. Mas dois dias depois deste anúncio, Al Jarreau morreu. Tinha 76 anos.
Segundo um comunicado oficial, “Al Jarreau morreu no hospital, no conforto da companhia da mulher [Susan], do filho [Ryan] e alguns familiares e amigos.” As causas da morte não foram ainda reveladas, sabendo-se apenas que, por decisão da família, será celebrada uma missa para familiares e amigos próximos e, pelo menos por enquanto, não está planeada nenhuma homenagem pública aquele que é um dos maiores nomes do jazz mundial, com uma carreira de mais de 50 anos.
Alwin Lopez “Al” Jarreau nasceu a 12 de março de 1940, em Milwaukee, Wisconsin, no seio de uma grande família – era o quinto de seis irmãos – onde a música esteve sempre presente: a mãe era pianista de igreja e o pai era ministro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Apesar de cantar desde criança, estudou psicologia e terapia da fala, tendo trabalhado na área da reabilitação. Mas em paralelo a música esteve lá sempre: juntamente com o guitarrista Julio Martinez tocava num pequeno clube em Sausalito, São Francisco.
O sucesso foi tal que, um ano depois, Al Jarreau passou a dedicar-se exclusivamente à música e, com Julio Martinez, começou a atuar em alguns dos mais disputados clubes de Los Angeles, bem como a fazer as primeiras aparições televisivas. Ainda assim, foi apenas em 1975, com 35 anos, que editou finalmente o seu primeiro álbum, “We Got By”.
Dois anos mais tarde recebia o primeiro Grammy, pelo disco “Look to The Rainbow”. Ao longo da sua carreira lançou 17 álbuns de estúdio, o último dos quais, “My Old Friend: Celebrating George Duke”, em 2014. Recebeu sete prémios Grammy, em três categorias distintas – jazz, pop e R&B – que ilustram bem uma eclética forma de estar na música, que atribuía às suas origens “Cresci no Milwaukee e interiorizei tudo. Queria tudo. Não queria me censurassem e dissessem que não podia ouvir Muddy Waters por eu era do jazz. Ou que não podia ouvir Garth Brooks. Deixem-me”, disse, em 2014, numa entrevista ao “Arizona Republic”.
Prova deste olhar sem fronteiras sobre a música foi o seu maior sucesso de vendas, o álbum “Breakin Away”, de 1981, que vendeu mais de um milhão de cópias e incluía o tema “We’re In This Love Together”, uma das mais reconhecidas (e smooth) das suas canções, juntamente com “Moonlighting”, tema central da série de televisão dos anos 1980 “Modelo e Detetive”, protagonizada por Bruce Willis e Cybill Shepherd. Foi também nos anos 1980 que participou no tema de caridade “We Are The World”, no qual cantava o verso “and so we all must lend a helping hand.”
De resto, a solidariedade marcou sempre a sua forma de estar na vida. Como se pode ler na sua página oficial: “A sua segunda prioridade na vida era a música. Não existia uma terceira prioridade. E a primeira, com grande avanço em relação à segunda, era ajudar aqueles que necessitavam.”