1.Os políticos portugueses pautam-se pelo seu enorme gosto de aparecer nas fotografias, de proferir discursos arrebatados e de deslumbrar pela fama fácil – e por evitar sempre tomar decisões. Aquilo que caracteriza a política (resolver problemas complexas em prol da comunidade) – é precisamente aquilo que os políticos portugueses evitam, rejeitam, odeiam.
1.1.Os problemas, sérios e estruturais que ameaçam o nosso futuro, são sonegados e adiados “sine die” – as declarações pífias, inconsequentes e inúteis, sucedem-se diariamente. Não pode, pois, causar estranheza que o Parlamento português seja ignorado pela maioria dos portugueses: os debates travados no plenário, o trabalho dos deputados são ignorados, senão mesmo desprezadas, pela comunidade. Porquê?
1.2.Precisamente porque bem longínquos dos interesses e aflições (quanto ao seu presente e quanto ao seu futuro) dos portugueses. O Parlamento – pese embora formalmente ser o órgão representativo de todos os portugueses e deter a supremacia do poder legislativo – é hoje um órgão com um peso político-institucional residual, cuja credibilidade tem sido corroída com empenho e eficácia pelos nossos partidos políticos.
Há uma doença crónica de “partidarite aguda” que vai moendo, dia após dia, a respeitabilidade daquele que a nossa Constituição erigiu como o símbolo institucional da democracia.
2.Pois bem, um exemplo claro das discussões estéreis dos deputados nacionais é a recente aprovação de diversas moções – praticamente uma por partido político aí representado – contra as decisões do Presidente Trump. Note-se que os deputados de um partido outrora moderado (o PS) sentiram a necessidade de frisar que a condenação não incide sobre a eleição de Trump, mas sim sobre as medidas que o novo Presidente tomou em matéria de imigração. Assim perderam os nossos deputados uma tarde inteira.
3.Evidentemente, o Presidente Donald Trump reservou a sua tarde para permanecer com os olhos fixos no seu computador pessoal a assistir às declarações sempre muito liricamente contundentes de Catarina Martins – a líder do Bloco é actriz e Trump já considera mesma importar a douta súbdita de “El-Rey” bloquista Francisco Louçã para Hollywood.
É que Donald Trump aguenta as críticas da CNN, da Bloomberg, dos democratas: mas não da Catarina Martins e do Jerónimo de Sousa, pois, afinal de contas, estes dois líderes da extrema- esquerda portuguesa são exímios na arte de afastar do poder quem ganha eleições.
4.Ora, com tantos problemas nacionais, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa optam por debater assuntos políticos que apenas aos cidadãos e às instituições norte-americanas dizem respeito. Por que razão deve o Parlamento português discutir medidas concretas do Presidente norte-americano? Alguma vez os deputados portugueses discutiram a Obamacare? Alguma vez discutiram a Lei Dodd- Frank? Alguma vez discutiram as opções de política externa do Presidente Obama?
4.1.E para o futuro, a moda é para continuar? Sempre que o Presidente Donald Trump aprovar uma nova medida político-legislativa, o Parlamento português vai reunir-se para a discutir? O Parlamento português vai encetar uma longa discussão para emitir um parecer prévio – muito aguardado pelo Presidente Donald Trump, certamente! – sobre cada decisão das autoridades políticas norte-americanas? Ridículo.
5.No que diz respeito ao PCP e ao BE, nós percebemos a sua tentação de debater a Administração Trump e os Estados Unidos da América em geral: é puro folclore.
Folclore político para animar as suas hostes: para o BE, contestar os EUA é a forma de se sentirem revolucionários, anti-poder, socialistas da velha guarda, é quase tão radical como acampar nas revolucionárias matas portuguesas; para o PCP, é a forma de Jerónimo fazer os militantes comunistas acreditar que o PCP ainda se mantém fiel à velha ortodoxia, num tempo em que o PCP se tornou o partido mais burguês do sistema partidário nacional.
6.Por outro lado, o Bloco de Esquerda – através dos seus deputados José Soeiro (uma personagem quase ao nível de João Galamba) e Pedro Soares (que é um deputado competente, mas que vive noutro planeta) – tentou ao trazer a discussão sobre Trump para o Plenário condicionar (entalar!) o Ministro Augusto Santos Silva.
Não por acaso, no dia seguinte, Santos Silva (que fora sempre muito cauteloso e cordial para com a nova Administração norte-americana) mudou o discurso e alinhou com a esquerda radical nas críticas a Donald Trump – posição que vai muito além do que é admissível a um Ministro dos Negócios Estrangeiros de um país que é um aliado histórico e convicto dos EUA.
7.O problema é que o PSD e o CDS/PP, mais uma vez, tiveram receio, indo na onda irresponsável do extremo- PS e da extrema-esquerda. Porventura receando a contestação mediática, estes dois partidos aprovaram moções de censura criticando a Administração Trump.
7.1.Exigia-se uma outra postura e um outro discurso dos dois partidos moderados e responsáveis portugueses. Em vez de discutir inutilidades, PSD e CDS dever-se-iam bater pela discussão séria das premissas da política externa portuguesa num mundo em mudança. Este tema que é central para o nosso futuro, não interessa aos nossos deputados: é mais cool e fashion dizer mal do Trump! E os nossos impostos pagam isto? Para os deputados brincarem aos missionários políticos?
Mais juízo – infelizmente, como sempre, pelo menos nas últimas décadas – tem a Espanha e as autoridades políticas espanholas. Enquanto que os nossos políticos brincam, Mariano Rajoy trabalha. Enquanto os nossos políticos lutam para ter uma foto na capa dos jornais, um lugarzinho a lista das personalidades do ano da LUX, os políticos espanhóis não falam, mas fazem. Em prol dos interesses superiores da sua Nação.
8.O que fez Rajoy? Já ligou duas vezes ao Presidente Donald Trump, discutindo a parceria entre os dois países em áreas como a economia, a investigação e a defesa. Mariano Rajoy informou Trump de que Espanha está preparada para ser uma peça chave na estratégia internacional norte-americana, constituindo uma porta de entrada na Europa, um elo de ligação entre os EUA e África e a América do Sul.
Isto é, enquanto a geringonça e a direita portuguesa se entretêm com jogos florais, Mariano Rajoy tenta apagar do mapa Portugal em benefício de Espanha, aproveitando-se até da imagem de Portugal (culpa da falta de visão dos nossos políticos!) como mera província espanhola. A Espanha tem uma especial ligação com África? Desde quando?
9.Enfim, Rajoy aproveita-se das potencialidades de Portugal – e das fraquezas e incompetências dos nossos políticos. A verdade é que o Primeiro-Ministro de Espanha deu uma lição de diplomacia a António Costa e a Augusto Santos Silva – e a todos e a cada um dos nossos deputados.
10.Portugal – a nossa Pátria – não merece o que lhe estão a fazer…