O défice mais baixo em 42 anos

O défice mais baixo em 42 anos, recordes negativos na dívida pública: mesmo assim, querem o pescoço de Centeno?

Para tirar a pressão do assunto do momento, que é a troca de SMS com António Domingues, e para a qual me estou praticamente nas tintas, Mário Centeno deu hoje uma notícia importante: que o défice orçamental de 2016 será o mais baixo da economia portuguesa desde que vivemos em democracia: 2,1% do PIB. A meta inicial começou por ser de  2,5% do PIB, depois António Costa anunciou que não ficaria acima de 2,3% do PIB, e Centeno veio hoje revelar que o défice não ficará acima dos 2,1%.

O Estado teve uma receita extraordinária, não recorrente, que ajudou a atingir estes números: foi o programa de regularização de dívidas fiscais e à segurança social, de seu nome Peres, que terá permitido encaixar 0,4% do PIB. Ou seja, sem o Peres, o défice seria de 2,5% do PIB: não tão brilhante, mas ainda assim o défice mais baixo da economia portuguesa desde o 25 de abril.

Outra boa notícia para este governo, e em especial para este ministro das finanças acossado, vem das vendas de dívida pública a curto prazo, onde os juros acabaram por bater novos recordes negativos: a três meses o Estado endividou-se em 250 milhões de euros com uma taxa de juro de -0, 219%, a onze meses a emissão de dívida foi de 1.000 milhões de euros, a 0,096%. Uma taxa de juro negativa significa que, no momento do reembolso, o credor recebe menos dinheiro do que emprestou, porque privilegia a segurança. Pelos vistos, ainda há quem considere Portugal um país seguro para emprestar dinheiro. As taxas de juro a longo prazo são muito mais elevadas, fechando hoje (15 de fevereiro de 2017) a 4,09%, mas mesmo assim são suportáveis.

Défice orçamental e taxas de dívida pública mais baixas de sempre. Centeno é um mau ministro das finanças? Não me parece. Então, porquê essa sanha da direita em pedir a sua demissão? Isso, caros leitores, para além de não distinguir o essencial do acessório, é a política no seu pior.