As suspeitas russas adensam-se. Numerosos assistentes e responsáveis na campanha presidencial de Donald Trump estiveram em contacto com agentes dos serviços de espionagem russos, revelou o "New York Times" esta quarta-feira, citando quatro dirigentes do novo governo americano e da anterior administração de Barack Obama, com conhecimento das investigações à intervenção do Kremlin nas eleições do último ano.
Por agora, não existem indícios de que os funcionários da campanha de Trump tenham encomendado – ou sequer se apercebido – das operações russas de ataque informático que resultaram no roubo de milhares de e-mails aos servidores do Comité Nacional Democrata e ao gestor da equipa de Hillary Clinton, Jon Podesta, dois casos no centro da teoria de que o Kremlin entrou em cena para ajudar Trump a chegar à Casa Branca.
As investigações, porém, em parte sustentadas em registos e escutas telefónicas, e em parte baseadas em entrevistas, estão ainda no início. Os investigadores do FBI, de resto, segundo escreve o diário nova-iorquino, estão preocupados com o grande volume dos contactos realizados entre pessoas próximas de Trump e funcionários dos serviços russo numa altura em que as operações de roubo de e-mails estavam em alta-rodagem e o candidato republicano mais sublinhava o apreço pelo estilo de governação do presidente russo, Vladimir Putin.
A notícia desta quarta-feira, aliás, não podia ter surgido numa pior altura para o jovem governo americano. O conselheiro da Casa Branca para os assuntos de Segurança Nacional, Michael Flynn, afastou-se ontem do cargo ao confessar ter mentido ao vice-presidente e público americano sobre um telefonema com o embaixador russo, a quem deixou entender, ainda antes de chegar ao governo, que as sanções russas podiam estar prestes a ser reduzidas – Flynn está também sob investigação no exército por alegadamente ter recebido dinheiro russo numa viagem em que foi celebrar o aniversário da televisão estatal, RT, jantando na mesma mesa que Putin.
Os dirigentes governamentais contactados pelo "New York Times" – todos sob anonimato, visto que a investigação é confidencial – identificaram apenas um dos responsáveis da campanha de Trump em contacto com agentes russos: ele é Paul Manafort, antigo gestor de campanha de Trump, ex-conselheiro do passado governo ucraniano alinhado com Moscovo e empresário com ligações à Rússia, que esta quarta-feira negava as acusações.
"Isto é absurdo", afirmou ao jornal norte-americano. "Não tenho nenhuma ideia sobre a que é que isto tudo se refere. Nunca falei conscientemente com um agente de espionagem russo e nunca me vi envolvido com qualquer coisa relacionada com o governo russo ou a administração de Putin."