Pagar uma verdadeira fortuna para fazer uma viagem de sonho por falta de alternativas já não faz parte dos dias de hoje. Multiplicam-se ofertas de promoções para vários destinos com preços que há dez anos eram praticamente impensáveis. Nas alterações dos preços das viagens muito pesa a evolução na história da aviação, o crescimento das companhias low-cost e os preços que praticam, além do facto de se assistir a uma verdadeira alteração dos fluxos turísticos provocada pela insegurança, nomeadamente em países que já foram afetados por atentados terroristas.
Atualmente é possível abrir um qualquer site de viagens e encontrar, por exemplo, uma viagem para Marraquexe, com voo e sete noites em hotel com pensão completa, por 366 euros.
Mas há outros exemplos. O Egito é outro dos casos em que a insegurança baixou os preços que, em tempos, eram praticados. Basta uma pesquisa rápida e é possível encontrar viagens de oito dias, com guia local em português, alojamento, transfers, taxas e seguro de viagem por pouco mais de 400 euros.
Por ainda menos, com pouco mais de 300 euros, também se encontram viagens para a Tunísia – promoções de sete noites, com voos, alojamento e pequeno-almoço já incluídos. E a lista de viagens que são possíveis por preços bem mais baixos do que há alguns anos continua.
A verdade é que, nos últimos anos, a realidade mudou. A palavra terrorismo chegou ao dia-a-dia da Europa como nunca tinha acontecido antes. Com ataques em diferentes países do centro europeu, a sensação de segurança acaba por ditar os destinos escolhidos quando chega a hora de viajar.
Mas não é apenas no preço das viagens que se mede o impacto do terrorismo. A Turquia é um dos exemplos de como o impacto dos ataques no setor do turismo pode ser negativo. Istambul foi palco de um atentado terrorista a 29 de junho do ano passado e a violência complicou a realidade do país, que vê no setor do turismo uma das principais fontes de rendimento. Em apenas alguns meses, os ataques em Istambul e Ancara fizeram centenas de mortos e feridos, e levaram a uma preocupante mudança na realidade turística do país. O número de chegadas chegou mesmo a atingir o nível mais baixo em duas décadas. Aliás, os exemplos mais recentes mostram que, a seguir a um ataque terrorista, há sempre uma queda inevitável na procura dos destinos.
Outro caso muito presente na memória coletiva tem a ver com os atentados em Paris, em novembro de 2015. Também aqui houve, desde cedo, grandes penalizações para o setor. Perante o receio de novas investidas, houve um verdadeiro travão nas viagens. Um dos impactos mais imediatos foi na bolsa. Todo o setor começou a ressentir-se, com o índice que agrega desde companhias aéreas a restaurantes e hotéis a ganhar grande destaque nas perdas. No mês de junho do ano passado, as consequências ainda se sentiam na capital francesa. Os turistas ainda não tinham começado a voltar em peso à Cidade-Luz. Como forma de atrair mais turistas, os hotéis chegaram mesmo a baixar os preços.
Companhias com menos lucro A mudança de cenário também se faz sentir nas contas de algumas companhias aéreas. A easyJet, por exemplo, fez saber no final do ano passado que tinha baixado os lucros pela primeira vez em seis anos e que a perda de receitas tinha a ver com o Brexit, mas também com o terrorismo.
A companhia admitiu mesmo que as receitas caíram 0,4% para os 4,67 mil milhões de libras (5,38 mil milhões de euros), tanto por causa das greves dos controladores aéreos como por causa dos ataques terroristas, com destaque para o de Paris, em 2015.
Michael O’Leary, presidente executivo da Ryanair, também chegou a notar, a meio do ano passado, que havia menos interessados em andar de avião e sublinhava que isso muito tinha a ver também com os ataques terroristas em Paris e Bruxelas.
A verdade é que, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo, a incerteza na economia mundial, os ataques terroristas e a descida do preço dos combustíveis foram os grande motivos para a quebra de custos das transportadoras. Os dados mostram ainda que houve uma descida média de 11,4% nos preços das viagens de avião entre os destinos europeus nos primeiros meses do ano passado.
Mudança na procura Com os fluxos turísticos a mudar, há países que registam crescimentos fora do normal em comparação com o que era a realidade há uns anos. Entre eles está Portugal. Uma notícia recente da Bloomberg destacava o crescimento do número de reservas para países como Portugal, Bulgária, Croácia e Chipre, números que, de acordo com o Thomas Cook Group, a empresa de turismo mais antiga do mundo, se justificam pelo facto de os turistas começarem a procurar destinos que são muito menos conhecidos, mas considerados mais seguros.
Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo, admitiu, aliás, desde cedo que Portugal poderia acabar por sair beneficiado enquanto destino turístico com as mudanças nos fluxos. Os dados mais recentes mostram mesmo que Portugal nunca teve tantos hóspedes estrangeiros e dormidas.