O nome de François Bayrou nunca constou na lista dos principais favoritos para chegar à segunda volta das eleições presidenciais francesas, mas a sua desistência a favor de Emmanuel Macron até pode vir a ser decisiva para que o ex-ministro da Economia de François Hollande consiga reservar bilhete para o frente-a-frente com a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, no início de maio. A partir da sede do movimento centrista MoDem, em Paris, o presidente da câmara de Pau decidiu afastar-se, hoje, da corrida ao Eliseu, em nome da “responsabilidade”.
“Decidi oferecer uma aliança a Emmanuel Macron”, anunciou Bayrou, de 65 anos, citado pelo “Guardian”. “Talvez [a desistência] seja um sacrifício, mas existem momentos em que temos de estar à altura da gravidade das situações e refletir sobre como podemos sair dela. Não é altura para pensar em mim, mas no meu país”, explicou, justificando a sua decisão com o “risco extremo” que a “multiplicação de propostas” está a criar em França, personificado pelo “enorme perigo” oriundo da Frente Nacional.
Garantida por praticamente todas as sondagens como vencedora da primeira volta, a realizar no final de abril, Le Pen (e a França) olha com interesse para o duelo entre o líder do movimento “En Marche!” e o candidato do partido conservador Os Republicanos, François Fillon. Atualmente estão separados por uma diferença de 1 a 3 pontos percentuais, nas intenções de voto dos franceses, pelo que qualquer apoio será bem-vindo – como, de resto, se viu, através da mensagem publicada por Macron no Twitter, poucos minutos após o anúncio em Paris, na qual elogiava os “valores” e “ideias” de Bayrou – mesmo que isso possa vir a representar uma percentagem pouco significativa de votos.
É precisamente neste contexto e à luz do duelo Macron-Fillon, que o abandono do autarca pode ganhar especial relevância. De acordo com as sondagens, apenas 6% dos eleitores estão inclinados a votar nele, mas ainda assim, nas eleições de 2012 Bayrou conseguiu 9% dos votos e cinco anos antes conseguiu 18%, pelo que a margem de potenciais apoiantes pode vir a ser interessante e, quem sabe, decisiva para Macron ultrapassar Fillon.
Escândalos marcam o ritmo
A corrida ao Eliseu tem sido marcada por embaraçosos escândalos, que envolvem alguns dos candidatos, pelo que a comunicação social francesa tem dedicado um largo tempo de antena cada vez que são conhecidos novos episódios. O caso “Penelopegate” – que abalou a candidatura de Fillon, fruto da abertura de uma investigação ao ex-primeiro-ministro, pela alegada oferta de cargos fictícios à esposa, Penelope, e aos filhos, remunerados com dinheiros públicos -, por exemplo, levou o parlamento francês a publicar, esta quarta-feira, uma extensa lista como os nomes de todos os assistentes parlamentares. Para além disso, foi anunciado o plano de criação de um comité que se dedicará a analisar e avaliar o trabalho realizado por esses mesmos funcionários.
No mesmo dia, e no âmbito do pedido de reembolso por parte do Parlamento Europeu, rejeitado por Le Pen, pela alegada utilização de fundos comunitários para pagar salários a dois membros da Frente Nacional, Thierry Légier, guarda-costas da candidata, e Catherine Griset, assessora partidária, foram detidos pela polícia francesa para interrogatório, e são mesmo suspeitos de corrupção. No início da semana já tinham sido feitas buscas na sede do partido de extrema-direita francês.