Cavaco Silva respondeu às acusações de que o livro "Quinta-feira e outros dias" é um ajuste de contas com José Sócrates. Na primeira entrevista que deu desde que saiu de Belém, o ex-presidente da República rejeitou essa ideia e garantiu que não precisa de "ajustar contas com ninguém", porque a vida lhe correu bem.
"Não preciso de ajustar contas com ninguém, porque a vida correu-me muito bem. A vida profissional e politica. O que me motivou foi prestar contas de uma forma rigorosa".
Cavaco Silva admitiu que ficou "surpreendido" com a prisão de José Sócrates por suspeitas de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção. "Fiquei totalmente surpreendido. Nas reuniões com o primeiro-ministro nunca me apercebi de qualquer actuação legalmente menos correcta". Cavaco garantiu, porém, que não tem acompanhado o processo que envolve o ex-primeiro-ministro. “A não ser pelos títulos demasiado grandes que aparecem em alguma comunicação social".
Cavaco respondeu também aos que o têm criticado por revelar as conversas com o primeiro-ministro. "As conversas que tive foram privadas, mas não secretas". O ex-chefe de Estado argumenta que "essas conversas constituem parte substancial da magistratura de influência do Presidente da República. Não podia deixar de publicar aquilo que se passou".
O livro tem sido muito comentado devido às revelações feitas sobre a relação que tinha com Sócrates. O ex-presidente da República garante, no entanto, que "a maior parte das reuniões foram cordiais e de respeito mútuo".
Cavaco disse mesmo só ter memória de "duas reuniões que foram muito difíceis", devido ao caso das escutas e ao PEC IV. O ex-chefe de Estado voltou a acusar Sócrates de ter violado a Constituição por não ter informado previamente Belém sobre o programa que estava a preparar. "Disse-lhe directamente que era uma deslealdade institucional", revela.
Esta foi a primeira entrevista que Cavaco Silva aceitou dar desde que saiu da presidência da República. Cavaco garante, no entanto, que vai continuar a ter "uma vida moderada e fora dos holofotes" e que "política nunca mais".