Esta minha amiga está atualmente a receber um subsídio temporário de doença (está, como é costume dizer-se, “de baixa”), e este mês não recebeu qualquer montante. Dirigiu-se aos balcões da segurança social da respetiva área de residência, onde a funcionária, desolada, a informou que “o subsidio não foi processado.” Então o problema é relativamente simples, e estará resolvido dentro de um dia ou dois, pensei eu. Errado! A minha amiga vai ter de esperar um mês inteiro até que lhe seja pago o subsídio em falta. Até lá, terá de viver de dinheiro emprestado, para não passar fome, juntamente com o filho menor.
Este, vim a saber depois, está longe de ser um caso isolado. É a segunda vez que ela tem este azar, e outra amiga dela, também “de baixa”, já passou igualmente por essa experiência negativa. Segundo a minha amiga contou, a funcionária da segurança social que a atendeu estava genuinamente triste, porque, segundo ela própria, os casos assim são “às dezenas”.
Esta triste história permite tirar rapidamente quatro conclusões. A primeira é que a burocracia do ministério do Trabalho e da Segurança Social não tem planos de contingência para acudir a estes erros burocráticos.
Segundo, que é um ministério que vive atafulhado em burocracia. Onde está o Simplex? Não deve ter passado dos livros de matemática (é o nome de um algoritmo).
Terceiro, que a “poupança” obtida pelo não pagamento atempado deve permitir ao ministério poupar umas somas chorudas, por pôr o dinheiro a render recebendo juros ou por não pedir tanto dinheiro emprestado, poupando assim em juros. Isto pode-se escrever, mesmo sendo impossível de quantificar a dimensão do problema.
Em quarto e último lugar, que os números do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, tutelado pelo ministro Viera da Silva, pelo menos no que diz respeito a subsídios de doença, não são fiáveis.
Não sei se não pagam os subsídios atempadamente por problemas burocráticos ou por pura má fé. Mas põe-se a questão: e se esta minha amiga não tivesse quem lhe emprestasse dinheiro? Bem, ela e o filho passariam fome durante um mês. Por isso é que, às vezes, Portugal mete nojo.