Não tem penteado à jogador da bola – é curioso como há tantos anos os craques do esférico se caracterizam por um mau gosto impressionante -, estudou, não tem tiques de vedeta, mas, apesar disso tudo, é um dos grandes jogadores da atualidade, ao ponto de os principais clubes internacionais estarem interessados nele.
Quando chegou à idade adulta já muitos lhe adivinhavam um futuro risonho, mas o treinador de então do Benfica entendeu que seria melhor ele partir para outras paragens. Em abono de Jorge Jesus pode argumentar-se que a equipa nesse tempo tinha um meio campo de luxo e seria difícil apostar num jovem, mas tê-lo colocado a treinar a defesa esquerdo também lembraria a poucos…
Certo é que Bernardo Silva se fez à estrada e assentou arraiais no principado do Mónaco, onde tem vindo a ganhar estatuto de príncipe, tal é a sua magia tratar a bola.
Nesta época, muito se tem falado do jovem feito homem no Benfica – que tem apenas 1,73m, mais três centímetros do que Messi – mas na última terça-feira com mais uma estrondosa exibição, desta feita em Machester, contra o City, ficou nos radares mesmo daqueles que pouco percebem de futebol. Aos 22 anos, Bernardo Silva afirma-se como um talento mundial, onde a subtileza do seu futebol perfuma um jogo onde andam tantos trolhas travestidos de craques. Com ele, a bola viaja de um lado ao outro do campo como se fosse um objeto precioso. Quando finta adversários dá a ideia que chegam atrasados a alguma coisa – e de talentos como Silva é que o futebol português precisa.
A Bernardo Silva não são conhecidas grandes manias, esperemos que não as venha a ganhar, e os elogios chegam de todos os lados. Soube esperar pela sua vez até conquistar a camisola número 10, aquela que é, por norma, dos verdadeiros craques: Eusébio, Pelé, Maradona ou Messi, só para dar alguns exemplos.
O craque do Mónaco é a prova de que os clubes portugueses fazem lindamente em apostar na formação, e fazem-no como poucos, e que também é inevitável que não fiquem muito tempo em Portugal. Os clubes nacionais não têm dinheiro para competir com as principais potências estrangeiras e só poderão fazer um brilharete internacional se tiverem a sorte de ter uma fornada como a do Ajax de 1995, que foi campeã da Europa antes de partir para outras latitudes.