Os juros da dívida pública portuguesa podem estar prestes a estabilizar

Nestas coisas da análise de mercados, há dois tipos de análise: a análise fundamental, na qual eu sou especialista, em que se vê, por exemplo, se uma ação está cara ou barata comparando o preço de cada título com os respetivos lucros por ação; e a análise técnica, na qual eu tenho muito pouca fé…

Um leitor atento (do qual, infelizmente, já não me lembro do nome, pelo que o convido a apresentar-se na caixa de comentários) fez-me notar, há uns tempos, os juros da dívida pública portuguesa com o prazo de dez anos, tendo identificado uma tendência (“the trend is your friend”, como dizem os crentes na análise técnica: a tendência é vossa amiga) de subida dos juros. Olhando para o gráfico, segundo ele, os juros sobem, depois descem um bocadinho, depois voltam a subir fixando um máximo superior ao anterior, depois voltam a descer fixando um novo mínimo, mas mais alto do que o mínimo anterior, e assim sucessivamente.

Vendo o gráfico dos juros, este confirma a tendência de alta. Desde o dia 15 de agosto, em que se fixaram em 2,69%, até 6 de fevereiro, em que atingiram os 4,24%, os juros de Portugal a dez anos têm estado numa sólida tendência de subida. O que interessa é que essa tendência pode agora estar perto do fim.

O mínimo anterior ao máximo de 6 de fevereiro foi de 3,86% a 24 de janeiro, e hoje, 27 de fevereiro, os juros já tocaram um mínimo, justamente, de 3,86%. Logo, na ótica dos defensores da análise técnica, se os juros baixarem de 3,86%, a tendência de subida estará quebrada (às 14:30, os juros estavam a 3,90%). Há que aguardar pelos próximos dias.

A questão, já em termos fundamentais, é se Portugal aguenta pagar juros na casa dos 4%. E, segundo Cristina Casalinho, a presidente do IGCP, o organismo que gere a dívida pública nacional, Portugal pode pagar juros de 4,2%.

Claro, seria preferível pagar menos. Isso depende da continuação do rigor orçamental, e dos humores dos analistas das agências de rating: as três maiores das quatro mais importantes agências de rating classificam a dívida de Portugal como lixo, o que impede, por razões estatutárias, vários fundos de pensões e de investimento de comprarem dívida portuguesa. Se um dia puderem voltar a comprar, os juros da nossa dívida descerão.