A verdade sobre as agências de rating

Sou o autor do livro “Ratings: 50 Perguntas e Respostas), 2010, Edições Centro Atlântico. Como estas entidades ainda fazem confusão a muita gente, vou transcrever a resposta à pergunta 50 do livro. É uma citação de Bill Gross, que na altura era gestor do maior fundo de investimentos do mundo. Sobre as agências de rating,…

Sou o autor do livro “Ratings: 50 Perguntas e Respostas”, 2010, Edições Centro Atlântico. Como estas entidades ainda fazem confusão a muita gente, vou transcrever a resposta à pergunta 50 do livro. É uma citação de Bill Gross, que na altura era gestor do maior fundo de investimentos do mundo. Sobre as agências de rating, ele escreveu o seguinte, em 2010:

“Vejam-se estes exemplos recentes: na semana passada, a S&P baixou o rating de Espanha um nível, de AA+ para AA, avisando que podiam baixar mais caso a Espanha não tenha cuidado. Ui – que duros. E, acredite ou não, a Moody’s e a Fitch ainda classificam Espanha ao nível AAA (o mais alto de todos). Aqui está um país com uma taxa de desemprego de 20%, com um défice recorrente da balança de transações correntes de 10%, que nos últimos dois séculos entrou em incumprimento 13 vezes, cujas obrigações transacionam ao nível das Baa e cujo destino depende cada vez mais da bondade da União Europeia e do FMI para resgatá-lo. Que grande AAA!

Vejamos agora um exemplo inverso. A GMAC, a empresa financeira que esteve recentemente à beira da falência, tem agora ratings B, recentemente subidos, das agências de rating. Mérito para as três. O governo dos Estados Unidos detém 65% da empresa e injetou-lhe 20 000 milhões de dólares de capital. Esta empresa é, no sector automóvel, o equivalente da FNMA e do FRHLMC, só que estes têm ratings AAA, enquanto a GMAC só tem B com “perspetivas positivas!” Assim, pode comprar obrigações da GMAC com o prazo de dois anos e com uma taxa de juro anual de 6,25%, mas só receberá 1,2% ao ano se comprar títulos semelhantes da Fannie e do Freddie (as duas empresas anteriormente citadas). Vive la différence!

Todavia, não enterre as agências de rating: elas são como vampiros na calada da noite e viverão mais do que qualquer um de nós. Todavia, que quiser lucrar à custa delas deverá ignorá-las. Já não têm utilidade para investidores que não tenham de cumprir com disposições dos reguladores (…)”.

GROSS, B., maio de 2010, “Lovin’ Spoonful”, PIMCO

E aqui deixo a opinião de um grande profissional do setor financeiro. Espero que tenha sido esclarecedor. Se não foi, já sabem: caixa de comentários.