Campeonato. Dona Águia vai à Feira tentar fugir do carrossel…

Depois da vitória de terça-feira, no Estoril, o Benfica regressa à Liga com uma deslocação a Santa Maria da Feira onde mora um Feirense muito interessante. Duas horas e quinze minutos antes, o FC Porto entra em campo para procurar bater o Nacional da Madeira e ficar, nem que seja por momentos, na frente da…

O Benfica foi à taça e já está de volta. Quero dizer, jogou na terça-feira à noite, na Amoreira, frente ao Estoril, para a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, vencendo por 2-1 e pondo pé e meio no Jamor – um pé daqueles grandes, que calça, para aí, um 48 ou 49 –, e amanhã mesmo regressa ao campeonato, em Santa Maria da Feira, aquela que foi em tempo, bem mais prosaicamente, a Vila da Feira, defrontando um Feirense catita que, a pouco e pouco, foi fugindo das ondas alterosas da linha de água, a ponto de estar hoje a dez pontos do mergulhado Nacional da Madeira.

Não conte, portanto, Dona Águia com facilidades. Aliás, não tem tido vida facilitada por ninguém, ultimamente, e estão aí Desportivo de Chaves e Estoril-Praia para o comprovarem, com toda a distância que vai ali, da Côte d’Azur portuguesinha da Silva, benza-a a Deus, aos contrafortes do Marão onde mandam os que lá estão.

Nas últimas semanas, os dois primeiros, e bem primeiros, únicos candidatos ao título, para mal dos pecados de um leão que de tanto prometer, nas últimas duas épocas, após o advento de Jesus, ficou de língua colada, têm entrado em campo alternadamente um à frente do outro. Costuma dizer Nuno Espírito Santo, treinador do FC Porto – estranhamente passou-se dos carretos no jogo do Bessa, frente ao Boavista, num bate-boca de keepers com Alfredo –, que ganhando primeiro do que o Benfica despeja sobre as costas encarnadas uma dose de pressão que é convenientemente incomodativa para os rapazes da Luz. Responde Rui Vitória, no seu estilo igualmente contido, que isso é coisa que não lhe tira o sono. Esta semana, não tem de tirar. Afinal, os portistas recebem o tal encharcado Nacional, nas Antas, apenas duas horas e um quarto antes de o Benfica subir ao relvado da terra das fogaças. E, convenhamos: têm os azuis e brancos pela frente uma tarefa bem menos complicada do que a dos seus rivais pela conquista de um título que parece ter uma importância exacerbada se tivermos em conta a guerrilha que se espalhou por toda a comunicação social, tendo as arbitragens como alvo privilegiado.

Repetido.

É uma discussão que parece não ter fim. Repete-se, época após época, um ano com uns protagonistas, no ano seguinte com outros. Lembramo-nos bem como, na época passada, Benfica e Sporting se envolveram nestes combates de alecrim e manjerona durante jornadas a fio. Levaram a melhor os encarnados, que nisto de falar só fica com voz grossa o que chega na frente. Agora, cabe ao FC Porto tomar o lugar que era dos leões. E tudo se repete, teimosamente, tão teimosamente como o sobe e desce dos alcatruzes da nora no movimento da vida.

À medida que se aproxima um escaldante Benfica-FC Porto, agendado para a Luz, é expectável que o palavreado se amontoe ao ponto de ficar ensurdecedor. Cabe ao técnicos, de um lado e do outro, manter os seus jogadores alheios ao carnaval. Ainda por cima numa fase do calendário que não se resume aos embates entre portas e mete, também, exigentíssimos confrontos europeus. Bem, neste caso, muito mais exigentíssimo para portistas do que para benfiquistas, se é que ainda há para o lado das Antas uma ténue crença na qualificação para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Depois do atropelo de que foi vítima por parte de uma Velha Senhora pouco dada a brincadeiras, o FC Porto não irá a Turim – no dia 14 – de passo muito acertado, consciente que a desvantagem de 0-2 é praticamente impossível de reverter, sobretudo quando a diferença de qualidade entre as equipas é tão gritante que se vislumbrou a olho nu lá do alto dos 75 metros da Torre dos Clérigos, fruto precisamente da imaginação italiana de Nicolau Nasoni.

Já o Benfica, defenderá, depois do jogo da Feira, frente à equipa do surpreendente Nuno Manta, que parece ser um jovem técnico cheio de qualidade, o magrinho 1-0 de Lisboa em Dortmund, frente ao Borussia, e já na semana que entra. Duro: muito duro. Meio perdido entre exibições muito tem-te-não-caias, com minutos de brilho e outros de escuro cinzentismo, o conjunto de Rui Vitória precisa de recuperar rapidamente a tranquilidade que costumava ser natural no seu meio-campo. A ausência de Fejsa não pode explicar todos os sobressaltos. Veremos se o sérvio regressa amanhã. Se Jonas já está pronto. Ou se vai ser outra vez Mitroglou a a carregar a equipa às costas. Com a certeza, porém, de que não há espaço para escorregadelas depois do empate caseiro com o Boavista e a derrota desiludente de Setúbal. Sob risco de a pressão do FC Porto passar a ser uma realidade diferente: a de líder da classificação.